Micaretas podem ser uma experiência traumatizante na vida de uma pessoa que não faz parte desse universo, como é o meu caso.
Tudo aconteceu em 2006.
Conheci meus atuais melhores amigos na praia e eles já tinham o costume de ir ao Axé Brasil religiosamente em todos os anos.
Eu, desde muito cedo um roqueiro incorrigível (edit em 2019: que frase ridícula), para fazer uma média com os amigos e experimentar uma coisa nova, já que na época todo mundo falava que era fácil dar uns beijinhos nesses shows, resolvi entrar nesse mundo.
Mas havia um pequeno problema: dinheiro.
No ano anterior, em 2005, trabalhei por 3 meses em busca de um único objetivo: comprar um Playstation 2.
Três meses de trabalho e eu já tinha o dinheiro para realizar esse sonho de consumo.
E foram bons tempos aqueles jogando Winning Eleven, Black Hawk Down e GTA.
Voltando ao assunto, era chegada a época da micareta e eu não teria dinheiro.
Bem se sabe que em determinadas ocasiões o diabo se disfarça de oportunidades imperdíveis para tentar foder a nossa vida.
Uma delas foi a mãe do meu amigo oferecendo o mesmo preço que eu paguei no Playstation 2 novo, por ele usado. Com 1 ano de uso.
No momento eu não raciocinei direito e não pude calcular o prejuízo sentimental que eu sofreria.
No momento a única coisa que se passava na minha cabeça era o tanto de oportunidades que eu teria para dar vários beijinhos.
Eu não levava em conta o ambiente lotado, a música ruim e as constantes brigas que acontecem nesse tipo de evento.
Fiz uma das maiores cagadas da minha vida e ela não veio acompanhada de uma diarreia.
Vendi o Playstation 2.
A cagada não se restringiu a somente vender o videogame.
Além disso, eu gastei o dinheiro com a porcaria de um ingresso pra micareta. E mal sabia que o me esperava por lá.
Se meu videogame tivesse sentimentos, eu seria odiado eternamente por ele.
Na época eu estava “afim” de uma amiga que conheci no carnaval e quando ela me avisou que viria para o Axé Brasil, a única coisa que consegui pensar foi: Obrigado Deus pela graça alcançada.
Naquele momento, todo o investimento foi justificado. Eu iria ao show pra tentar ficar com essa amiga.
O grande problema com expectativas é que na maioria das vezes, elas são muito maiores que a realidade.
Eu depositei tanta expectativa nessa situação e esqueci apenas de um detalhe: o dono da expectativa é quem cria e se você não faz nada para tentar correspondê-la, não adianta ficar parado esperando.
Passei o dia todo esperando o momento de encontrar com a garota. Ensaiando mil e um cenários na minha cabeça juvenil.
Mas quando chegou o momento em que nos encontramos, eu simplesmente não conseguia esboçar nenhuma reação além de contar piadas inúteis, fazer trocadilhos e rir como uma hiena com gases.
Não cheguei na menina e, pensando em uma futura oportunidade, não me arrisquei com nenhuma outra garota com medo de estragar qualquer (inexistente) chance que eu tivesse futuramente com essa “amiga”.
Como se não bastasse tudo isso, eu tive que aturar um dia inteiro de Axé, estilo musical que eu simplesmente não curto, além de um estádio de futebol lotado de pessoas suadas e felizes (outra coisa que abomino) e principalmente, ter que aturar aquele bando de cara bombadinho que faziam de tudo para arrumar um briga e poder mostrar o quão fodão eles eram.
Claro, se eu fosse brigar ali, seria considerada uma chacina, devido ao meu domínio das artes marciais em suas mais variadas formas.
Sabe o que tudo isso significou? Que eu fui otário o suficiente para abrir mão de um dos meus maiores companheiros de aventuras para tentar ficar com uma menina que sequer deu a entender que o sentimento era recíproco.
Fiquei sem videogame e sem dar uns beijinhos.
Depois de passar por essa experiência, o que posso dizer para os jovens é: não veja seu videogame para ir em um evento onde a sua chance de fracasso ultrapassa os 95%.