25 anos, pai da Letícia e um amante de Internet e sarcasmo.

A pizza na minha vida

A pizza na minha vida

A pizza na minha vida

Uma das melhores recordações que tenho são as que remetem à minha infância. Lembrar dos tempos em que as coisas eram mais simples, da riqueza das brincadeiras e das descobertas, das primeiras experiências, amores e de tudo aquilo que hoje me faz ser o que eu sou, me traz uma sensação de paz. Pois aqueles eram tempos difíceis, na maioria das vezes, e entre “bullys” que tinham 16 anos na quarta-série com passagem na polícia e milhares de amores platônicos, eu sobrevivi e posso dizer que, sem o uso de cheat ou então uma Nintendo World (que sempre foram caras), consegui passar de fase.

E eu tive acesso à algumas dessas lembranças enquanto estava discutindo com minha noiva, esses dias, quando a mesma disse que não queria comer pizza pois estava enjoada. Ela, com toda a coragem do mundo, me fitou e disse, rápida e letal: “Wallace, eu não quero comer pizza. Eu não aguento mais! É toda semana, encheu o saco”. O meu mundo caiu. Desistimos da pizza e ela foi lá fazer o seu famoso Miojo Chernobyl, enquanto eu estava no quarto me preparando para podermos ver o “filme do Wolverine e do Batman em que eles são mágicos”.

Enquanto eu comprava o filme no Pirate Bay, fiquei pensado:

Realmente os tempos mudaram. Olha que engraçado. Na minha época, se a minha mãe dissesse que estava PENSANDO em comprar pizza, meu irmão mais novo tinha crise de ansiedade, ficava pulando pela casa e a euforia era total; e isso durava por horas, até mesmo depois da massa ter sido digerida e / ou meu irmão recobrar a consciência. A pizza significava que tudo estava bem, era uma coisa mais simbólica do que alimentícia; quando minha mãe comprava pizza, sabíamos que as coisas estavam melhorando, sabíamos o valor daquele alimento. Se sobrasse algum pedaço pro dia seguinte ele era tratado melhor do que a gente. Aprendemos à força a valorizar essas pequenas aventuras alimentícias familiares.

Isso é: a gente tinha uma plantação de bertalha no quintal e o vizinho de trás tinha duas galinhas. Então Bertalha com Ovo era um prato que sempre estava presente em nossas refeições, por 3 anos. Quando a palavra pizza era citada, automaticamente uma pessoa caia no chão, outra começava a dançar e não importava o que tinha acontecido, o problema que estava rolando, que era só a pizza chegar que tudo estava bem de novo. Por outro lado, tínhamos a dura realidade da bertalha-nossa-de-cada-dia, toda esparramada pelo quintal, nos olhando de lá, esperando sua dose diária de estrume e água.

Depois de refletir sobre isso, sobre como um alimento tão importante na formação moral e ética de pessoas em todo universo está sendo esquecido e perdendo (mais) espaço pros (mais) fast-food da vida, fui meio cabisbaixo na cozinha chamar minha noiva e pegar nossa refeição, pois o aluguel vitalício do filme já havia sido concluído e a fome já se manisfestava fisicamente. Quando me deparo com um prato de macarrão instantâneo da Nissin, sabor pizza, com orégano e queijo derretido jogado por cima.

Até que tudo deu certo no final (apesar do macarrão ser uma bost@, porém continuava sendo de pizza). A sorte é que o filme era bom.

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Perfeitamente normal

Quando tinha uns 8 anos, eu possuia um sentimento estranho. Estranho agora, é verdade. Pois naquela época era bastante normal se sentir assim. In fact, não tinha definição, eu apenas sentia. Sentia que, tudo de ruim que acontecia com os outros, na televisão, em filmes, novelas e etcs, não poderia ou deveria acontecer comigo ou com amigos próximos meus. Sei lá, era algo que eu simplesmente não via acontecer porque, de fato, nunca havia acontecido. Era como tentar descobrir em qual próxima (que não seja muito distante, por favor Jesus!) data eu iria “me dar bem” com alguma garota.

Até um dia. Existe uma lei da natureza que diz: quando tudo começa bem, o final vai ser triste. E eu como todo bom pobre, já sabia como acontecia as coisas. Eu era do tipo que comprava um pacote de biscoito (ou bolachas) e o partia em 5 “pedaços” para poder merendar todos os dias da semana. Era o aluno que levava pedaços de melancia pra escola, ovos cozidos e todo o tipo de comida de “adultos”. Uma professora de lá gostava (e tinha pena também) tanto de mim, que ao invés de dizer meu nome correto na hora da chamada (que é Wallace Chagas), ela gritava “Wallace Batalha”, “Wallace Guerreiro que irá vencer na vida”, “Wallace Deus dá o frio conforme o cobertor”. E isso me gerava um desconforto muito grande, pois, na hora da merenda, geral sempre me dava um “restinho” do que comiam. Foi lá, na Escola Maria de Nazaré, que eu comi meu primeiro pedaço de torresmo!

E isso pra mim era totalmente normal. Nunca fui muito de dar importância aos fatos. Nunca fui de me preocupar em roupas caras, em materiais desnecessários para levar pra sala de aula, nada de ‘capitalismo’. Eu só queria me divertir e, sei lá, viver naquela realidade que parecia infinita e, sendo assim, enternamente confortável. Por mais eterno que uma juventudade podia durar naquela época. Tudo muito legal e divertidinho.

Me apaixonei pela primeira vez. Perdi a virgindade. Conheci festas e bebidas alcóolicas. Virei adulto. Perdi a graça em mim e em ver a graça nas coisas. E hoje conversando com um amigo, falando sobre isso tudo, ele me disse algo que me deixou pensando, olhando pra cima, refletindo sobre tudo…

– Cara, você tem que aceitar. As coisas mudam. E isso é perfeitamente normal…

Tá bom. E se não fosse?

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