O mito foi derrotado. Na madrugada de sábado, após mais de 6 anos como detentor do cinturão dos pesos-médios, Anderson Silva perdeu para Chris Weidman.
Debochando como sempre faz durante as lutas, dessa vez o Spider encontrou um cara que não vacilou no momento certo e encaixou um cruzado de esquerda que apagou o ex-campeão.
Não há desculpa: Anderson Silva brincou e perdeu.
Porém…
Nos últimos anos, o UFC vem fazendo um forte lobby para a legalização do MMA em Nova York, o único estado americano em que a modalidade ainda não é legalizada.
Um dos planos de Dana White era realizar a super-luta entre Anderson Silva e Jon Jones durante a comemoração dos 20 anos de UFC, em Nova York, no Madison Square Garden. Pelo quarto ano consecutivo, os políticos nova-iorquinos reprovaram o projeto para a legalização do esporte na Grande Maçã.
Ou seja, nada de UFC em Nova York.
A Oportunidade
Desde a última luta contra Chael Sonnen, Anderson Silva vinha negando um confronto a Chris Weidman. Foram várias situações em que o jovem lutador nova-iorquino pediu a luta e foi menosprezado tanto pelo Spider quanto por seus empresários.
A desculpa recorrente era que o lutador de apenas 29 anos não tinha expressão suficiente para enfrentar o campeão. Enquanto Anderson já havia realizado mais de 10 defesas de cinturão, Chris Weidman tinha apenas 9 lutas em sua carreira. E estava invicto.
O discurso começou a mudar no final do ano passado, quando o lutador americano passou por uma cirurgia. De repente, a cada vez mais distante chance de disputar o cinturão começa a surgir no horizonte.
Anderson Silva enfrentaria Chris Weidman.
O símbolo perfeito
Nos últimos meses o UFC trabalhou incansavelmente na criação da imagem de Chris Weidman. O lutador nascido em Mineola, uma pequena cidade do interior de Nova York ganhou o status de “possível herói”, o cara certo a bater a lenda viva do MMA.
Além de ser nova-iorquino, o lutador ainda teve a sua casa destruída durante o furacão Sandy. Some a isso a boa carreira de 9 vitórias em 9 lutas, o seu histórico perfeito como wrestler e todo o menosprezo que recebeu de Anderson Silva nos últimos meses e temos um símbolo perfeito do herói americano. Especificamente o herói nova-iorquino.
A construção da imagem de Chris Weidman foi tão intensa que pela primeira vez desde que ganhou o cinturão, Anderson Silva não liderou com folga as bolsas de apostas. Vários dos próprios lutadores do UFC acreditavam que o americano era o favorito, o eleito, o cara que derrotaria Anderson “The Spider” Silva.
Dana White, chefão do UFC disse que se caso Anderson Silva perdesse, teria uma revanche imediata contra o Weidman.
Na noite do dia 6 de julho de 2013 ele fez o impossível. Derrotou o maior lutador de MMA da história.
Conveniência da vitória
Sem tirar o mérito de Chris Weidman, que foi esperto o bastante para atacar na hora certa em que Anderson Silva utilizava as suas armas clássicas para desestabilizar o adversário, é bem conveniente que um lutador nova-iorquino derrote o maior nome do MMA da história poucos dias após a votação que manteve o esporte ilegal em Nova York.
Como disse acima, Dana White deixou claro que em caso de derrota, Anderson Silva teria direito a uma revanche imediata contra o oponente.
Com a vitória de Chris Weidman, lutador nova-iorquino e novo detentor do cinturão, o UFC agora tem um forte motivo para conseguir a legalização do MMA em Nova York.
O estado agora tem um herói, o cara que derrotou a lenda. Um forte motivo para que os políticos nova-iorquinos votem a favor da legalização do esporte e consequentemente movimentem o turismo e os investimentos que o UFC realiza com projetos e eventos.
Os beneficiados da história
Anderson Silva anunciou após a derrota que não queria a revanche. Falou até em uma possível aposentadoria, mesmo com um contrato de 10 lutas assinado pelo UFC. Anderson Silva é, hoje, o lutador mais rentável da empresa.
O cara que recebe a maior bolsa, além de ter os maiores patrocínios, ganha uma porcentagem do valor das vendas de pay-per-view e, acima de tudo, construiu uma imagem de lutador perfeito, invencível e “mítico”.
Conquistou praticamente tudo no UFC. Tem um cartel perfeito na organização. Definiu números que dificilmente serão batidos, ajudou a popularizar ainda mais o esporte no Brasil e no mundo e, acima de tudo, ganhou muito dinheiro.
Ao anunciar que abre mão da revanche e citar a palavra aposentadoria, Anderson Silva abre um precedente gigante para que o UFC promova, futuramente, uma nova luta contra Weidman. Imagine o que renderia “a revanche que tirou Anderson Silva da aposentadoria”? Sim, é muito dinheiro.
Chris Weidman ganhou o cinturão e mais: será conhecido para sempre como o cara que derrotou o mito Anderson Silva. O lutador que agora tem o status de herói irá receber novos e proveitosos patrocínios, bônus, aumento de “bolsa” no UFC, contratos publicitários e uma imagem forte.
O UFC ganha uma arma a mais para promover a legalização do MMA em Nova York e, consequentemente, entrar em uma cidade que é considerada a capital do mundo, onde poderá movimentar milhões de dólares com eventos especiais.
Com o argumento de “uma revanche entre Chris Weidman e Anderson Silva em Nova York, terra do novo herói americano do MMA”, a organização agora tem uma ferramenta poderosa a seu favor.
Americanos adoram histórias de superação, de heroísmo e, acima de tudo, patriotismo. Dificilmente o esporte continuará sendo ilegal por lá.
Nova York, por sua vez, receberá investimentos do UFC e todos os demais aportes financeiros que os eventos da organização levam consigo.
É uma situação em que absolutamente todos os envolvidos ganham alguma coisa. Inclusive os fãs de luta, que se não sacaram todo esse jogo, estão nesse momento esperando ansiosamente pelo anúncio de uma revanche entre Anderson Silva e Chris Weidman.
Ou seja: tudo não passou de um acordo para ajudar o projeto de legalização do MMA em Nova York!
Claro que tudo que você leu nesse texto pode ser coisa da minha mente criativa, mas não se pode negar que faz um enorme sentido.
Particularmente, espero estar profundamente enganado. Afinal, como fã de MMA, odiaria ver que esse tipo de situação foi armada. Não acredito que Anderson Silva entregou a luta propositalmente, mas que ele não fez nem de longe 10% do que é capaz isso não fez.
Mais uma vez, parabéns a Chris Weidman, novo campeão dos pesos-médios e que o Spider volte firme e forte para as suas próximas lutas.
Update: Entrevista em que Anderson Silva afirma, antes da luta, que Chris Weidman seria o novo campeão do UFC e que ele não faria a revanche.
httpv://www.youtube.com/watch?v=KDWJEWVhANg
Abaixo você confere uma lista de matérias relacionadas às informações contidas nesse texto:
Chris Weidman: UFC pediu para não aceitar lutas com Belfort e Bisping
Weidman diz não ter mais esperança de enfrentar Anderson Silva
Empresário de Spider: St-Pierre 90%, Weidman 35%, e ‘??’ para Jon Jones
Chris Weidman perde a casa nos EUA em meio à tempestade Sandy
Anderson Silva menospreza luta com Weidman: “É um garoto, uma criança”
“Estou predestinado a vencer”, diz Weidman, sobre luta contra Spider
Dana dispara contra políticos de Nova York e desiste da legalização do MMA no estado
Update: Polícia americana investiga aposta de U$ 1 milhão na derrota de Anderson Silva