O feijão tropeiro e a igualdade social

Escrito por Arquivo

Trabalho em uma região de classe alta. Uma alameda com dezenas de condomínios e suas famigeradas varandas gourmet. Um reduto onde é fácil encontrar firmas de advocacia, escritórios de design, consultórios particulares, estúdios de estética, agências de publicidade, boutiques de alta costura e o trailer do tropeiro.

O trailer do tropeiro é uma espécie de Super Bonder social que une todas as classes de trabalhadores dessa região. Não importa o seu cargo: de diretor financeiro a mestre de obras, o tropeiro é um amor em comum de todos os que trabalham por aqui.

E apesar de toda a propaganda massiva que nos atinge todos os dias, o tropeiro de lá não é gourmet. E o trailer não é “truck”.

Naquele pequeno espaço, sob tendas armadas em meio a calçada e a avenida, patrões e proletários vivem em completa harmonia. Não é raro ver um executivo vestido com ternos de corte sob medida e sapatos italianos discutindo os jogos do campeonato brasileiro com um peão trajando macacão e colete da prefeitura.

Por um breve momento, a utopia da igualdade social se faz presente em nossas vidas. Ali, todos tem R$ 9 para comprar o marmitex pequeno ou R$ 12 para comprar o grande. Das 12h ás 14h, a Alameda da Serra é a prova viva de que é possível um mundo onde todos são iguais.

Não precisou de nenhuma revolução armada, de nenhum partido de extrema esquerda chegar ao poder ou militantes cheios de conceitos e ideais libertários.

Foi preciso apenas um combinado de arroz, feijão tropeiro, couve, linguiça, ovo frito e torresmo.

A igualdade, meus amigos, é uma coisa linda! E o tropeiro é delicioso.