Perfeitamente normal

Escrito por Arquivo

Quando tinha uns 8 anos, eu possuia um sentimento estranho. Estranho agora, é verdade. Pois naquela época era bastante normal se sentir assim. In fact, não tinha definição, eu apenas sentia. Sentia que, tudo de ruim que acontecia com os outros, na televisão, em filmes, novelas e etcs, não poderia ou deveria acontecer comigo ou com amigos próximos meus. Sei lá, era algo que eu simplesmente não via acontecer porque, de fato, nunca havia acontecido. Era como tentar descobrir em qual próxima (que não seja muito distante, por favor Jesus!) data eu iria “me dar bem” com alguma garota.

Até um dia. Existe uma lei da natureza que diz: quando tudo começa bem, o final vai ser triste. E eu como todo bom pobre, já sabia como acontecia as coisas. Eu era do tipo que comprava um pacote de biscoito (ou bolachas) e o partia em 5 “pedaços” para poder merendar todos os dias da semana. Era o aluno que levava pedaços de melancia pra escola, ovos cozidos e todo o tipo de comida de “adultos”. Uma professora de lá gostava (e tinha pena também) tanto de mim, que ao invés de dizer meu nome correto na hora da chamada (que é Wallace Chagas), ela gritava “Wallace Batalha”, “Wallace Guerreiro que irá vencer na vida”, “Wallace Deus dá o frio conforme o cobertor”. E isso me gerava um desconforto muito grande, pois, na hora da merenda, geral sempre me dava um “restinho” do que comiam. Foi lá, na Escola Maria de Nazaré, que eu comi meu primeiro pedaço de torresmo!

E isso pra mim era totalmente normal. Nunca fui muito de dar importância aos fatos. Nunca fui de me preocupar em roupas caras, em materiais desnecessários para levar pra sala de aula, nada de ‘capitalismo’. Eu só queria me divertir e, sei lá, viver naquela realidade que parecia infinita e, sendo assim, enternamente confortável. Por mais eterno que uma juventudade podia durar naquela época. Tudo muito legal e divertidinho.

Me apaixonei pela primeira vez. Perdi a virgindade. Conheci festas e bebidas alcóolicas. Virei adulto. Perdi a graça em mim e em ver a graça nas coisas. E hoje conversando com um amigo, falando sobre isso tudo, ele me disse algo que me deixou pensando, olhando pra cima, refletindo sobre tudo…

– Cara, você tem que aceitar. As coisas mudam. E isso é perfeitamente normal…

Tá bom. E se não fosse?