Eu mal voltei com esse blog e já perdi completamente a vontade de escrever.
Preciso admitir que o maior culpado disso é o clima polarizado do Brasil durante essas eleições. Toda a minha vontade de escrever esvaiu-se à medida em que eu digitava os famosos textões em discussões sem fim ou sentido nas caixas de comentários das redes sociais.
Dediquei tanto esforço a converter votos ou pensar em insultos cada vez mais elaborados que acabei deixando a minha escrita pessoal de lado. E o que aconteceu? Provavelmente perdi amigos, devo ter sido jurado de morte uma ou duas vezes e no final das contas, todas as discussões em que me envolvi não me levaram a lugar algum e foram mais improdutivas que certo candidato em 28 anos como deputado. Mas aumentei consideravelmente o meu repertório de xingamentos.
Isso acaba amanhã.
Dependendo do resultado, fica até difícil saber se ter um blog será algo aceitável pelo futuro regime. Não quero pagar pra ver e, por isso, talvez seja melhor aproveitar esses supostos últimos dias de democracia para retomar a minha escrita e deixar um legado. Nunca se sabe quando a sua qualidade narrativa poderá servir de passaporte para um exílio no Chile ou na França (se depender das pessoas com quem discuti, talvez seria Venezuela ou Cuba, mas quero experimentar bons vinhos).
Por via das dúvidas, é melhor deixar tudo arrumado por aqui.
2018 talvez tenha sido um dos anos mais bizarros da nossa história recente. Os ânimos estão exaltados como nunca se viu. Em todos os lugares só se fala de eleições. Independentemente do seu candidato.
Falar sobre política não quer dizer que ficamos mais politizados. Basta ver a quantidade de notícias falsas que são compartilhadas diariamente nos grupos de Whatasapp e nas timelines de redes sociais.
Esse talvez seja um dos fatores que mais me desanimou de escrever nessa retomada do blog. A quantidade de pessoas que compartilham alguma coisa sem ler, sem questionar, com base apenas em um título extremamente sensacionalista – o famoso click bait – e alguma imagem chocante ou meme.
Por que gastar algumas horas escrevendo um texto, revisando, colocando todos os meus sentimentos para fora sendo que, no final das contas, as pessoas não passarão das primeiras 6 palavras ali de cima? E se passarem, mesmo que seja um texto extremamente pessoal, ainda corro o risco de receber algum comentário com “fake news”.
Não tem sido fácil investir em escrita no Brasil. Talvez nunca tenha sido. Mas agora, quando as pessoas se informam mais pelo Whatsapp que pela mídia tradicional, fica difícil querer levar a sério esse ofício.
Não sei quando volto. Se volto. Talvez essa URL nem passe pelo crivo do novo regime, mas mantenham-se firmes. Não desistam. Podemos perder essa batalha, mas a resistência só acabará com o fim da nossa existência.