Uma noite (frustrada) de amor e música

Por Arquivo

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Pois é amigos. O mundo off-line é tão selvagem, tão imprevisível que estou passando mais tempo lá do que aqui, na nossa sempre correta internet. Há dias venho tentando escrever alguma coisa por aqui, mas nada que mereça a sua atenção, amigo leitor. Entre tantas aventuras vividas nesses dias de férias, o único texto que achei digno de ser publicado aqui é um fato terrível acontecido há alguns anos.

O que você está prestes a acompanhar nas próximas linhas é um relato apaixonado e emocionante de quem perdeu algo muito importante durante a vida. Uma história de formação, crescimento e amizade (ou quase isso). Um episódio marcante na minha vida e que traçou fortemente o meu caráter. Caso perceba uma lágrima escorrendo, não se sinta culpado. Apenas leia.

O ano era 2002. Estava na plenitude da minha adolescência – no alto dos meus 16 anos. Só queria saber de andar de skate, jogar PlayStation, pegar garotas (o que eu fracassava constantemente) e escutar rock. Algo natural para um garoto dessa idade. Nessa época eu ainda não era viciado em internet. Utilizava a rede única e exclusivamente para mascar garotas no ICQ e baixar músicas e pornografia amadora. Ah sim, eu também tinha dois fã-sites: um sobre Blink 182 e outro sobre Smallville hospedados no guerreiro HPG e que hoje já não mais figuram nos anais da internerd.

Depois da Maria Tereza, Blink 182 e Smallville eram as minhas duas outras paixões naquela época.

Vale fazer essa contextualização histórica, pois Blink 182 tem parte fundamental nesse relato.

Conheci a banda quatro anos antes, no longínquo ano de 1998. Ano esse em que a nossa seleção tomara um chá de piroca na final da copa do mundo, mas que não vem ao caso e nem é importante para a história.

Graças ao primo de um vizinho, tive meu primeiro contato com aquele trio de San Diego – CA. Os acordes que me encantaram logo de cara eram, na verdade, o pontapé inicial da porradaria chamada Josie. Até hoje uma das minhas preferidas.

Aquela velha fica k-7 logo rodou todo o bairro gerando várias cópias, dentre elas a que foi minha companheira por mais de três anos. Infelizmente eu sou da época em que ter um mp3 player ou um celular que toca MP3 era algo um tanto quanto distante. O mais próximo de um player compacto que eu tive foi um Discman, mas que não funcionava muito bem sem um CD.

Outro detalhe: nessa época os CDs do Blink 182 em Belo Horizonte eram raridade. A banda começava a estourar nos Estados Unidos e chegava de mansinho no Brasil. Só havia cópias importadas, o que aumentava o preço astronomicamente.

Eu demorei três anos para colocar as mãos no meu primeiro cd do Blink 182. Era o mais recente lançamento deles: Take off Your Pants and Jacket. Já estávamos no ano de 2001 e até aquela data, era o melhor presente que um garoto podia ter depois de um PlayStation . Epic Win dos meus pais.

TOYPAJ

TOYPAJ

Passado mais um tempo, no começo de 2002, enquanto andava pelo centro de Belo Horizonte com a minha mãe, pedi, por curiosidade e puro interesse, para darmos uma passada na Galeria Praça Sete, o melhor lugar para se comprar CDs de bandas de rock.

A intenção? Ver quais CDs do Blink o lugar poderia abrigar. Andamos por todo o terceiro andar e, escondido em uma das prateleiras, lá estava ele. Aquele encarte colorido que ilustrava um show da banda. The Mark, Tom and Travis Show – o álbum ao vivo da banda. Que momento!

TMTTS

TMTTS

Com o CD em mãos, parti com um sorriso de orelha a orelha pra casa, esperando o momento de colocar o CD no meu discman e degustar de horas e horas de bom rock and roll. Eu não fazia idéia, mas naquele momento estava contribuindo para um dos piores acontecimentos da minha vida.

Algum tempo depois, já em 2003, tudo corria tranquilamente na minha vida. Andava de skate, jogava vídeo-game, mascava garotas na internet e escutava Blink 182 o dia inteiro. Graças ao advento da pirataria, já havia conseguido os mp3 de todos os CDs do Blink, o que era de grande valia, pois os CDs antigos não se encontravam nem no mercado negro de Belo Horizonte.

Nessa época, alguns amigos começaram a falar de uma garota da sala deles que curtia rock. Aliás, os caras me disseram que a garota curtia – e muito – Blink 182. Era um incentivo irrecusável para conhecê-la (lembrando que meu interesse não era nada musical. Nem sexual, mas, talvez, quem sabe, né?). O nome da moça em questão era Carol.

Fato é que eu fiquei doido pra conhecer a menina. Eu só conhecia outros caras que curtiam Blink. Garotas que gostavam da banda era uma espécie em extinção no meu mundinho e, como todo bom ser humano, eu desejava perpetuar a espécie de alguma maneira.

Na época eu era muito “whatever” pra sair da minha casa e ir até a escola dos outros para conhecer alguma menina, mesmo com os amigos insistindo no “cara, é só você ir lá. Ela quer te conhecer”! Por incrível que pareça naquela época, apesar da minha enorme timidez, eu sabia lidar melhor com garotas. Não corria atrás. Não adulava. Não me iludia. E nessa o tempo foi passando até aquela fatídica terça-feira de maio.

O dia amanhecera como todos os outros. Infelizmente eu tinha que ir pra aula, o que naquela época tomava toda a minha manhã, mas as minhas tardes e  noites eram livres para a pura diversão, apesar de internet mesmo só depois de meia-noite.

Chegando da escola, almocei e fui andar de skate. Basicamente o que eu fazia todas as tardes, o que explica a minha visível deficiência em matemática, química, física e biologia. Chegando do “rolé” reparei que haviam algumas amigas na casa da minha vizinha que era da sala dos meus amigos e, consequentemente, da sala da “Carol”.

Reparei que uma delas usava calça jeans, blusa preta e All-Star rabiscado. A típica figura roqueira colegial no início dos anos 00. Dadas as características da garota e o olhar de cobiça para a minha pessoa, na época magro, sexy e skatista, aquela só podia ser a Carol.

Continuei na política do “foda-se” as garotas. Venham a mim se quiserem. Subi e fui tomar meu banho. Depois, quem sabe, eu desceria e tentaria alguma coisa. Se eu soubesse o quão traumático seria esse dia, eu não teria nunca, em hipótese alguma, cogitado a idéia de sequer falar com essa tal de Carol.

Terminei de tomar o meu banho e estava curtindo uma vibe muito correta no Command & Conquer: Red Alert quando a campainha toca. Era o Vinícius e a Carol. Pensei na mesma hora “adoro comida entregue a domicilio”. MsgPlus_Img3333

O seguinte diálogo está cravado na minha memória de tal forma que mesmo sendo consumido pelo Alzheimer, lembrarei de todas as letras proferidas naquele dia.

V: E aí Fael!

R: Opa, e aí Gambá! (o apelido do cara na época)

V: Cara, essa é a Carol!

C: Nossa, finalmente a gente se conheceu!

R: Pois é. Prazer. – três beijinhos.

C: Prazer.

V: Então, Fael, tava falando com a Carol que você tem dois CDs do Blink.

R: MsgPlus_Img0552

C: Nossa Rafa. Por favor, tem como você me emprestar?

Amigos, eu digito nesse momento com o coração partido e olhos cheios de lágrimas. É duro revisitar um momento tão triste e marcante da minha vida depois de muito tempo. Mas faço isso pelo bem e o entretenimento de vocês.

Essa pergunta: “Por favor, tem como você me emprestar?” despertou uma reação química no meu cérebro que só me fez pensar em emprestar o cd e no dia de pegar de volta cobrar, sei lá, um beijo e um aperto no peito como pagamento. Confesso que fui ingênuo.

R: Mas é claro! Toma aí. Curte muito, hein? MsgPlus_Img0868

Essa foi a minha ruína. Naquele momento eu não sabia, mas estava entregando parte de mim a uma garota e nunca mais a teria de volta. A sensação era a mesma do Bart quando vendeu um simples pedaço de papel representando a sua alma para o Millhouse.

Entreguei de bandeja dois grandes pedaços da minha existência a uma garota que eu havia acabado de conhecer. Hoje, mais do que nunca, entendo o que sente uma garota que perde a virgindade com o primeiro malandro que fala bonito. É simplesmente uma sensação de derrota, abatimento e impotência.

A Carol levara consigo a minha virgindade, digo, meus dois CDs do Blink 182 e não tinha planos de devolvê-los. Tudo foi premeditado. A safada agiu de caso pensado.

Algum tempo depois fiquei sabendo que ela tinha mudado de escola. A minha reação, obviamente, foi um grito:

CARALHO GAMBÁ, E MEU CD, FILHO DA PUTA? COMÉ QUE VOU PEGAR ESSA MERDA DE VOLTA, CARA?

Ao que o Gambá respondeu, com toda a inocência peculiar de um garoto de 12 anos:

Cara, ela achou que você deu os CDs pra ela.

O velho golpe do cd emprestado...

O velho golpe do cd emprestado...

Minhas pernas começaram a tremer. A visão ficou completamente embaçada. Senti um vazio enorme. Frio, escuridão. Pela primeira vez eu sabia o que era perder algo de extremo valor sentimental e financeiro para uma mulher. Naquele momento eu sabia como era um divórcio.

Nunca mais eu tive contato com os meus CDs. Meus únicos dois CDs originais.

Tempos depois, sei lá, em 2006, eu achei o Orkut da Carol adicionado em um dos meus “colegas”. Não sei que força estranha me impediu, mas fui incapaz de deixar um scrap perguntando se ela ainda se lembrava de mim e como partira meu coração naquele dia. Quem bate, esquece. Mas quem apanha, sempre se lembra de um tapa. Era assim comigo.

Achei por bem deixar pra lá. Estava seguindo em frente. Conformado.

Mas aí, em 2007 eu comecei a namorar. E pasmem, no meu aniversário a minha namorada linda, maravilhosa e perfeita me deu o Take Off Your Pants and Jacket. Eu sabia que não era o mesmo cd, mas ocupou o lugar com igual carinho.

oi ohanna

oi ohanna

Com essa experiência eu aprendi que adolescentes roqueiras não são confiáveis (generalização mode: on). Aprendi que além de carro, mulher, livros e dinheiro, CDs também não se empresta. Grave uma cópia e dê ao amigo, mas não empreste seus CDs. Também entendi que uma adolescente de 12 anos pode ter a mente tão perversa quanto a de grandes vilões. Destruiu meu coração sem nem ao menos me dar um beijo como pagamento.

Uma experiência traumatizante que moldou o meu amadurecimento. Inesquecível, triste. Mas ninguém se torna um grande herói sem perdas durante a jornada.

Desculpe o tom emotivo do post, mas foi inevitável.

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20 Responses to " Uma noite (frustrada) de amor e música "

  1. Helô disse:

    Ain… Ri demais. Valeu a lição, neh?! Ow, passa o Orkut dela que eu cobro pra você… Kk’s 🙂

  2. Carol disse:

    AEEE TONTAO ROBEI TEUS CD’s xD rsrsrsrsrsrsrsr Boua a historia

  3. Filippe disse:

    Você começou comprando logo o último cd bom deles, que comparado aos outros é meia boca!

    Blink era muito bom, mas começou a ficar muito EMO!

    Chesire Cat, Dude Ranch, Enema of State são fodásticos, e o ao vivo, uma reunião de todos esses é a cereja do bolo…

    Mas daí pra frente foi decadência…

  4. Joselito disse:

    é foda cara… tbm curtia mto blink
    kill that bitch, let her burn in hell…
    axo dificil axar alguem que não tenha ouvido blink na infancia
    e pqp
    tava lendo sua historia com WMP ligado
    e quando resolvi responder aki…
    chuta que musica começou ???
    sem zuiera
    josie

    blink 4 ever

  5. Lucas disse:

    Meu amigo, me sensibilizei pela sua historia…sei como é arduo tentar achar cds do blink pra comprar, ainda bem que estou (quase) acabando de comprar a discografias deles, originais *–*
    e obrigado pela dica de garotas adolescentes roqueiras, vou abrir os olhos com elas! não quero deixar os cds nas mãos de qualquer uma!
    abraço

  6. raphael disse:

    Essa mina merece a morte! haha
    desde pequena exercendo o jeito mulher de ser/agir
    e cara, preciso confessar que esse cd marcou minha juventude também :’)
    afinal quem da nossa geração não ouviu blink?

  7. dudu disse:

    Eu tenho sorte, aqui ninguem gosta de Green day. Tenho do Dookie até o 21st Century Breakdown, felizmente todos brilhando como ouro em uma estante que eu tenho no quarto.

    Emprestei um livro no começo do ano para um cara que é bastante amigo meu, meu colega de classe inclusive. Só que até agora ele não me devolveu. Ele reprovou, eu passei de ano. Acho que ele vai se mudar. Ainda tenho tempo de conseguir o livro de volta, mas não sei se ele não viajou no verão.

    (aliás, tem um clipe novo do Massacration que mostra esse fato de emprestar coisas para amigos gananciosos com o humor de sempre, vale a pena ver)

  8. rafabarbosa disse:

    É traumatizante.

  9. rafabarbosa disse:

    Pow, eu adorei receber de presente dela, anos depois! =D

  10. rafabarbosa disse:

    Um pouco de drama não faz mal a ninguém hahuahuauha

  11. rafabarbosa disse:

    Valeu cara! =D

  12. rafabarbosa disse:

    Cara, pessoas que roubam cds não merecem ter uma vida tranquila. Oportunistas. PFF!

  13. Diandra disse:

    Putz meu,minha história é parecida.

    Lá pelos meus 10,11 anos eu já curtia um belo rock N Roll (venho de família tradicionalmente roqueira),mas como a moda do momento era Linkin park nessa minha idade,eu virei uma pseudo fã.Em um lindo dia,um cara lá da minha rua,meu amigo,me pediu emprestado meu Hybrid Theory “emprestado” (um cd filhadaputamente sacrificado para comprar),e eu com essa idade era muito lezada,e fui lá e emprestei.

    O arrombado se mudou enquanto eu viajava e nem avisou nem nada!(isso foi nas férias de janeiro),quando chego na linda rua,vejo que o mlk se mudou pra mato grosso (eu morava em sp)e levou o minha beldade,meu objeto de apreciação em todas as noites,meu cd tão sacrificado.E ele tinha historia,foi o primeiro que eu comprei.

    Depois disso aprendi que não se pode mais confiar nessas porras de amigo!

    (ainda bem que aos meus 12 anos eu começei a juntar uma grana e comprar meus cds do meu aclamado Pink Floyd,que eu amo,hehe)

    Ai fica minha história de decepção =(

    Abraço Rafa,muito sucesso em 2010!

  14. Marc... disse:

    Ae cara é por essa razão que costumo sempre ler seu site ( Blog ) . Você tem varias estórias que eu me identifico bastante , como essa dos CDs . Tmb já pessei por coisas parecidas na minha vida .

    Parabens pelo Blog Men ;D

  15. Eu! disse:

    isso me lembrou você fazendo drama…

  16. Paula disse:

    Putz! Pode ter sido traumatizante, mas ao menos a sua namorada te deu um, e o momento de receber esse presente pôde ser especial. Há males que vêm para o bem: Seus filhos serão bem alertados.

  17. CD’s não se emprestam mesmo… Se quando perde em algum lugar já é muito ruim, imagina ser ‘roubado’ dessa maneira… =P

  18. rafahenrik disse:

    “You broke my heart before I had the chance to fall in love.” The Innefficiency of Emotion – Grade

  19. Bianca disse:

    sorte minha que eu não me apego a CD’s, tenho todos do blink baixado, mas nunca passei pra um CD, talvez pqe eu só escute no pc mesmo, er.

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  1. Bobalinks disse:

    […] Texto: Uma noite (frustrada) de amor e música […]

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