Ser invisível em uma sala de aula não é algo fácil. Pratiquei essa milenar arte por 15 anos para atingir o nível de excelência que possuo hoje em dia.
No colégio e na faculdade eu era o aluno sem rosto, aquele que estava sempre com a cabeça baixa fazendo minhas coisas ou dormindo (no horário vago, que fique claro). As gatas não sabiam o meu nome e os meus professores se referiam a mim como “ah, aquele ali de trás, como é que chama mesmo”? Eu gostava. Evitava constrangimentos como ser chamado para ir ao quadro resolver exercícios ou ser chamado a atenção.
Depois que me formei na faculdade pensei que não entraria em uma sala de aula tão cedo. Porém, cá estou eu, frequentando as aulas de um cursinho preparatório a fim de me tornar um bonito, sensual e respeitável policial militar. Acho que esse “tempo” fora do ambiente estudantil afetou a minha incrível habilidade de ser invisível, pois hoje fui vítima de uma excelente trollagem do meu professor de Língua Portuguesa.
Já na primeira aula desse professor deu pra notar que ele é do tipo que gosta de fazer piadas com os alunos. Observei atentamente e felizmente consegui me manter invisível na maior parte do tempo. Documentei quem eram os alunos que ele mais interagia e me acomodei em um lugar completamente neutro na sala, misturando-me ao ambiente. De fora diriam que eu era parte da parede. Mas isso não passou batido pelo professor.
Hoje, enquanto percorria a sala entregando as folhas com propostas de redação, nosso adorado mestre chegou próximo a minha cadeira e fez a seguinte observação:
– Uai, você trabalha com farinha?
Como estava destreinado na arte de ser invisível, cometi o erro de olhar de volta e responder o que qualquer pessoa não iniciada na técnica diria:
– Eu não, por quê? – com uma risada meio abafada meio constrangida.
– Porque seu cabelo tá todo sujo de farinha.
Sem entender a piada de primeira, fiquei com aquela típica cara de paisagem, quando ele completou a “punch line” da anedota:
– Cabelo todo branco.
Aqueles 3 segundos que parecem 10 minutos antes de metade da sala explodir em risadas e comentários sobre o “Farinha”. De aluno invisível ao “aluno farinha” em questão de uma noite. Anos e anos de prática para ser invisível na sala de aula e falho logo em um momento como esses.
Nem entrei na PM e já sou conhecido como o Soldado Farinha.
Acho que o universo está me dando sinais claros de que já não sou mais tão moleque quanto acredito. Primeiro foi a atendente do Detran dizendo que o tempo foi cruel comigo e agora o professor me chamando de Farinha.
Devo começar a me vestir e a me portar como o senhor de respeito que estou me tornando. Mas não abrirei mão dos cabelos brancos. Não sou do tipo que compraria Grecin 2000. Sou um cara que está à vontade com esse charmoso cabelo grisalho.
As mães das minas piram!
KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK COLÉ FARINHA!
KKkkkkk muito boa soldado farinha