O Dia que Jesus me traiu

Escrito por Arquivo

Ele devia ser mais descolado do que eu

Jesus pode ter feito um cego enxergar, um aleijado andar e ter ressuscitado depois de alguns dias, mas, para mim, ele reservou algo muito mais irônico e humilhante. Jesus pode ter sido legal para você, mas comigo, ele apenas se divertiu rindo da minha cara. Vou contar para vocês um pouco dessa minha experiência com “Jesus”.

No final de 2005, eu estava de rolo com uma garota da minha rua. Estava curtindo demais ficar com ela e, quem sabe talvez, dar um passo adiante na “relação”. O Reveillon estava próximo e nesse ano eu passaria na casa da minha tia. Uma coisa mais família. A garota, por outro lado, resolveu passar em um clube tradicional aqui de Belo Horizonte.

Nesse momento, enquanto observava atentamente o desenrolar dessa história, o “criador” resolveu brincar um pouquinho com a cara desse blogueiro. E devo admitir, ele tem estilo.

Enquanto eu estava na casa da minha tia comendo pernil, tomando Coca-Cola e assistindo ao show da virada, a minha “peguete” estava lá no clube. Deu meia-noite e eu tentei ligar. Mas réveillon, após a meia-noite, é praticamente impossível conseguir completar uma chamada via celular. Logo, deixei para depois. Fui para a cobertura da titia e vi “de camarote” os fogos da lagoa da Pampulha.

Curiosamente, minha testa começava a demonstrar um pequeno sinal de coceira e minha cabeça pesava. Era hora de dormir, acreditei inocentemente.

Volta para “O Criador”. Sentado confortavelmente em sua cadeira de mogno e sucupira, nossa divindade bancando o Woody Allen celeste, escreve mais algumas páginas da comédia romântica que foi o meu ano de 2006.

Acordei no dia primeiro ainda com a cabeça pesada. Acordei bem tarde, pra ser sincero. Como de costume fui logo entrando na Internet pra falar com a “peguete” e deixar um scrap de feliz ano novo.

Nesse momento, alguém ri descontroladamente em algum lugar do universo.

Chegando à página de recados da garota, me deparei com um scrap mais ou menos assim de um gordinho qualquer: “O Orkut do “Jesim” é esse aqui: link”.

Alguém diz “LOL” em algum lugar do universo.

Tomado pela curiosidade mórbida querendo saber quem diabos é “Jesim”, cliquei no link deixado pelo gordinho e fui averiguar.

Na boa. Pode me zoar, fazer pegadinha comigo e tal. Eu não vou apelar. Você pode ser a pessoa mais irônica do mundo e eu vou entender. Mas Deus, com toda a sua sutileza tem um humor mais apurado e non-sense do que os ingleses em toda a sua infinita existência. Eu realmente não vou ligar, mas o que vocês lerão a seguir foi o maior Owned que eu já levei em toda a minha vida. Eu fiquei a ponto de fazer terapia por conta dessa “pegadinha”. Custei a superar.

Então, voltando ao Orkut. Cheguei no perfil do tal “Jesim”. Logo de cara já me deparo com o nome verdadeiro do sujeito: Jesus Salvador. Achando que eu era engraçado, disse um “amém” quando li e cliquei no link de recados.

O primeiro recado era da minha “peguete” e no melhor português que a Internet pode oferecer, li em letras garrafais e com uma cara de cu sem igual:

“Oi, lembra de mim? A gente ficou lá no clube. Te add. Beijos :*”

CARALHOPUTAQUEOPARIUAMINAMETRAIU!

Se não fosse humilhante demais ser traído em pleno réveillon, a menina ainda teve a ousadia de me trair com um cara chamado JESUS SALVADOR! Sério. Qual a probabilidade de uma família batizar alguém de Jesus Salvador e o cara resolver pegar justamente a menina que eu estava ficando?

Jesus Salvador? Eu não estava acreditando naquilo. E realmente não acreditei por muito tempo. Sei lá, se a menina tivesse me traído com Abraão, Salim, José, Moisés ou qualquer outro dos 12 apóstolos eu ainda entenderia. Mas com Jesus?

Deus deve ter um humor realmente non-sense.

O que eu poderia fazer? Era o filho do cara.