Essa semana, enquanto realizava as minhas últimas cerimônias de despedida para Emmanuelle acabei me lembrando dos meus amores platônicos da televisão. Foram momentos de pura nostalgia e depressão. Gostaria de narrar um em particular.
Não sei dizer exatamente quando me apaixonei por aquela garotinha loira e animada que aparecia todos os dias pela manhã na televisão. Não, não era a Xuxa. Particularmente, nunca gostei muito da Xuxa (futuramente descobriria que se quisesse perder a virgindade mais cedo, ela era muito mais indicada). Estou falando do ser mais ~angelical~ que pisou na face da Terra. Por coincidência, seu nome era Angélica.
Com um toque angelical, essa garota simplesmente entrou na minha vida apresentando uma gama enorme de brincadeiras e roupas ridiculamente curtas. Se bem que naquela época eu não ligava muito pra roupas curtas. Apenas para brincadeiras e os desenhos que ela exibia em seu programa. De algum modo, me cativou e despertou no pequeno Rafael sentimentos que até então eram desconhecidos.
De uma hora pra outra resolvi que Angélica seria a minha namorada. Por mais que eu não fizesse a menor ideia do que o termo “namorada” significasse na prática. Mas posso dizer uma coisa, meus amigos: cheguei ao extremo de dar um selinho na televisão durante um close na moça. (Acredito que agora vocês entendem um pouco mais sobre a minha mente e tudo o que diz respeito aos meus relacionamentos).
O tempo passou (e eu não sofri calado) e minha paixão por Angélica apenas aumentava. Eu já devia estar com os meus quatro anos de idade quando a televisão anunciou que exibiria um filme dos Trapalhões com a presença da minha e apenas minha Angélica.
Por uma incrível coincidência, a banda mais incrível que já passou pelo planeta também estaria presente no filme: Polegar. Mas falarei sobre eles em outro momento. Hoje estou abrindo meu coração.
Enfim. Angélica estaria no filme e era tudo o que eu precisava saber naquele momento.
O grande dia havia chegado. Era dia de ver Angélica na TV de uma forma que até então não conhecia. O meu pequeno coraçãozinho bateu mais forte quando Tami apareceu em cena.
Aqueles longos e levemente encaracolados cabelos loiros, uma roupa extremamente descolada pra época e um óculos escuro que atestava o quanto aquela garota era “awesome” para os padrões do início dos anos 90. Era a coisa mais linda que já havia visto até aquele momento.
Se eu pudesse descrever o sentimento, seria mais ou menos como a primeira picanha que um ex-gordo come depois de 95kg a menos e 3 anos de regime voltado apenas para saladas. Ou algo bem perto disso.
Infelizmente, a vida tem um jeitinho muito especial de nos mostrar que nem tudo é como a gente pensa. Um jeitinho muito escroto de despedaçar um coraçãozinho puro e inocente como o meu.
No filme existia um personagem chamado Carlão. Eu nunca tinha ouvido falar naquele cara. E de repente ele estava ali, dando em cima descaradamente da minha namorada. E o pior de tudo: ela estava cedendo aos encantos daquele pseudo-punk-rebelde que nem sabia tocar guitarra. E o detalhe mais ridículo: o cara usava camisetinha baby-look. Sério?
Obs.: Na época eu não sabia, mas o Carlão era interpretado pelo Supla. Daí o meu ódio inconsciente pelo cara durante a Casa dos Artistas.
Enquanto aquela tragédia se desenrolava na minha televisão Telefunken de, sei lá, 20 polegadas, eu só conseguia pensar em uma coisa: estou perdendo Angélica.
Nessas horas, sempre existe aquela falsa esperança de que tudo pode dar certo no final. No meu caso, foi durante uma partida de vôlei. Em uma breve discussão, Carlão acerta um cruzado de direita no lindo rostinho de Tami. Tomado pela fúria, soquei o braço do sofá e desejei apenas que aquele maldito fosse fatiado pela espada de Jiraya.
Pensei que estava tudo bem e ela continuaria a ser minha. Que aquele clima de amor entre os dois era apenas uma fase, comum quando estamos no colégio, e que passaria em breve.
Mas a vida, ah, a vida, sempre me fodendo…
Minutos antes da típica festinha do colégio, Carlão reaparece com seus galanteios baratos e falas decoradas (é roteiro, né?). O cara chega e joga na minha cara que sabe o segredo de Tami. Que ela gosta dele. E nesse momento, meus amigos, pude aprender da forma mais trágica possível que garotas podem ser muito cruéis. Minha Angélica corresponde à cantada com um sorrisinho e um número musical – Angelical Touch. Definitivamente, a barrinha de Life do nosso relacionamento já estava nas últimas.
Naquele momento em diante parei de prestar atenção no filme em si e me concentrei apenas nos movimentos de Carlão e em como a minha musa reagiria àquelas investidas.
Depois de uma confusão qualquer no colégio, para piorar ainda mais a minha situação, Carlão faz algo que é impossível competir: salva a vida de Tami. Veja bem, na minha cabeça de 4 anos de idade, não existia a distinção entre personagem/atriz. Pra mim, era a Angélica ali, apenas com um nome diferente.
É, amigos. Salvar a vida de uma garota é uma declaração de amor impossível de ser batida (risos).
Depois da confusão, Carlão e Tami vão acertar as contas.
Um último respiro de esperança. Após uma breve discussão entre os dois, pensei que ainda existia salvação. Porém, Carlão retorna ao auditório do colégio e com uma das cantadas mais fracas da história do mundo, arranca um sorriso da minha Angélica.
Os dois se aproximam, se olham e o cara simplesmente diz que não se importaria de namorar uma milionária. Com toda a audácia de um verdadeiro filho da puta, começa a beijar os dedos daquela que era minha até poucos segundos atrás e finalmente tocam os lábios.
O mundo parou. Um relacionamento lindo como o nosso, de quase 2 anos, jogado fora em uma projeção de menos de 100 minutos.
Angélica não me ligou. Angélica não me mandou uma carta. Angélica sequer me comunicou que estava terminando o nosso relacionamento. Angélica simplesmente me traiu com o cara mais tosco da face da Terra.
Com toda a tristeza e raiva que um jovenzinho de apenas 4 anos pode suportar, desliguei a televisão e me entreguei à melancolia do meu quarto. Chorei. Sim, chorei. Chorei por uma garota com apenas 4 anos de idade e não tenho vergonha de admitir.
Fui incapaz de ligar a televisão pela manhã por muitos e muitos dias. Aprendi da forma mais dura possível que garotas não dão à mínima para os nossos sentimentos. É só aparecer um cara um pouco mais boa pinta (e maior, e mais rebelde, e que toca guitarra) que elas se entregam sem nem ao menos lembrar que do lado de cá existe alguém sendo trucidado por esse ato.
Essa é a história de como eu tive o meu primeiro amor platônico e de como fui “doutrinado” pela vida.
Triste. Apenas triste.
=(
Pois é, Fernanda! Eu também nunca fui fã da Xuxa. Minha relação com ela se baseava exclusivamente em assistir aos desenhos que o programa dela exibia. Sempre curti mais a Angélica, até esse fatídico dia.
Começando a aprender desde cedo que a vida não é uma história açucarada de amor HAHAHAHAHAHHA
Ai Rafa, adorei! Primeiro, porque eu também nunca fui uma baixinha da Xuxa. Minhas preferidas sempre foram Angélica e Eliana. AMAVA caça talento e lembro de algumas cenas até hoje! Só uns flashs de memória, mas lembro! E eu nunca tinha visto/pensado nesse amor de infância dos meninos. Eu sempre achei que esses programas eram mais vistos por meninas, mas não! Toda a criançadinha da época de 90 assistia pelo jeito. Muito bom!
Pois é, Nat! Desde cedo =((((((((
Aforei Rafa!!! Como sempre muito engraçado!!! Mas dessa vez fiquei com dozinha do coração partido!!!!
A vida é cruel. Mas segui em frente. Me curei ahhahaha
Poxa, Déia! É realmente bom saber que essas coisas não acontecem somente com nós, jovens rapazinhos! hahahahaha mas afinal, quem nunca teve um desses amores, ne? hahahaha
Estou comovida e chateada. Rs..
E acho incrivel como a vida começa a nos fuder logo cedo ne?
Agora engole o choro e vamo que vamo
owwwwwwwwwwwww Rafa… fica assim não que meu grande amor também foi um maroto (da mara maravilha) e sofri do mesmo jeito quando no programa dela… percebi um clima, sei lá. bem … eu já tinha 12 anos. =(
Mas nós mulheres também sofremos demais com esse meninos da moda, metido a roqueiro que se veste sei lá como hoje (restart?)affff
não sabemos nós que nos patinhos feio da escola são os homens lindos com quem geralmente casamos e somos felizes. é só uma questão de tempo.
Você foi trocado pelo filho da MARTA com o EDUARDO Suplicy. Sem mais.