Já tem alguns meses que o Medium se tornou a minha porta de entrada para a internet. Começo os dias lendo o “Daily Digest” que me enviam pelo e-mail, além das newsletters das publicações que sigo, reunindo os principais posts da semana.
Meu foco no Medium são os textos de escrita criativa, comunicação e cultura digital, design, criatividade e alguns relacionados a produtividade. Alguns artigos são categorizados nesses temas mas poderiam muito bem fazer parte da categoria que chamamos por aqui de autoajuda.
Lá ela se chama “Life Lessons”.
Esses textos me fizeram ter a impressão de que, aparentemente, os autores do Medium são os mais bem sucedidos seres humanos da história.
Eles largaram seus empregos para encontrar a felicidade nas coisas simples da vida, como morar em um bangalô orgânico no sudoeste da ilha de Mali enquanto gerenciam seus negócios remotamente após uma boa sessão de surf matinal.
Seguindo quase a mesma linha, existem as pessoas que largaram tudo pra viver viajando. E como essa sensação de liberdade pode ser recompensadora, desde que você: a) já seja rico e possa se dar ao luxo de largar tudo e viajar ou b) tenha quem te “dê cobertura” caso algo não saia como o planejado.
Tem também as pessoas que abriram startups que cresceram 2.568% em apenas quatro meses sem ter um produto sequer a oferecer, somente uma landing page e um bom networking.
No Medium, pudemos acompanhar a ascensão dos novos gurus do empreendedorismo, que pregam de forma quase religiosa que se você não é um empreendedor, sua vida está fadada ao fracasso. Que você jamais encontrará o sucesso profissional e a felicidade plena.
Para entrar nesse clube, você não pode ser uma pessoa física. Tem que ter CNPJ e saber o significado de siglas como M.E.I ou o que é pitch. Assim como Deus, o empreendedorismo é o caminho, a verdade e a luz. Vinde a mim aqueles que desejam sucesso.
Inclusive, abro um parêntese aqui para indicar um texto excelente publicado no Medium: “Por que a indústria do empreendedorismo de palco irá destruir você”.
Além disso, temos também os tratados psicológicos que tentam nos explicar de forma didática, mas sem conter explicação alguma, por que os millenials ou a geração Y estão tão infelizes na vida e nas carreiras.
Posso explicar de forma ainda mais didática: fico infeliz quando leio esses textos.
Eu sei que o conteúdo que consumimos depende dos filtros e das nossas preferências, especialmente daquilo que recomendamos, mas fica difícil escapar desses textos, uma vez que eles estão sempre entre os mais recomendados do dia justamente por ter essa filosofia barata e fácil de engolir.
É claro que isso não será o suficiente pra me tirar daquela rede social. Apesar de existir essa cidade das pessoas felizes e realizadas, ainda tem aqueles que estão apenas compartilhando suas histórias de ficção ou dando dicas realmente práticas para melhorar a sua produtividade.
Acho que eu gosto do Medium por me lembrar justamente como eram os blogs quando entrei nesse mundo.
Só me sinto um pouco deslocado ás vezes por não ser uma pessoa tão bem sucedida como os autores de lá. Mas tenho certeza que é só começar a empreender e poderei fazer parte dessa turma enquanto escrevo da minha cabana na Tailândia.