Estou chateado. Além de chateado, estou muito decepcionado e com um pouco de raiva no meu coração. Quero aproveitar o espaço aqui disponível para fazer um manifesto. Quero que todos saibam o motivo da minha indignação e, acima de tudo, quero contar com a ajuda de você, que está pensando da mesma forma que eu.
Eu adoro carnaval, adoro folia e adoro música eletrônica. Eu, assim como os meus amigos da PUC, da FUMEC, da UNI e da Newton Paiva, toda essa moçada bonita e endinheirada de Belo Horizonte, adoramos quando são anunciadas a Creamfields, a XXXperienc, a Tribe e toda e qualquer PVT que role nas redondezas desse bom e velho Curral Del Rey.
Essas festas são um momento único onde podemos reunir, em um só lugar, a nata da sociedade mineira. Tudo muito organizado em um ambiente regado à muita música eletrônica, RedBull, água mineral, balas e doces a vontade.
Além de todas essas maravilhas que citei acima, nada me deixa mais animado em uma trance do que o doce e hipnótico gingado do rebolation. Sinto como se a mão de Deus tocasse as minhas pernas e me presenteasse com o dom divino de me movimentar de forma rápida, sensual e muito sagaz. Quando pratico o rebolation, tenho pena de garotas como a Luciana de Viver a Vida, que não pode sentir na pele (na verdade, da cintura pra baixo) a sensação e o poder de rebolar ao som dos mais renomados DJ’s. É como se eu estivesse no País das Maravilhas mesmo não me chamando Alice.
Mas aí veio o carnaval. Essa manifestação popular que toma conta do Brasil durante grande parte do mês de fevereiro. Eu gosto de manifestações populares. Quero dizer, gostava até esse ano.
Eu sempre soube que a Bahia, mais especificamente o Axé Baiano, era uma espécie de Kibe Loco da cultura musical brasileira. Ao contrário do site humorístico que se apropria da piada alheia, a Bahia transforma tudo em Axé. E eu não gostei quando se apropriaram da nossa – e só nossa – técnica do rebolation transformando-a em uma “letra” de axé.
Entenda: quem participa e promove as raves, faz parte de uma pequena elite brasileira. Em termos mais claros, estamos no topo da pirâmide social. . Essa característica permite que os nossos eventos tenham um preço um pouco maior e prezem pela qualidade. Nós não realizamos raves nas ruas. Nós não tocamos raves em trio-elétricos. Somos os filhos do molho especial do McDonalds e não curtimos dendê. Então, por que diabos vocês resolveram cantar “rebolation” nessa porcaria de carnaval de rua?
Como um dos mais proeminentes membros da comunidade tranceira do Brasil, quero deixar aqui o meu manifesto e repúdio à banda Parangole e a todos aqueles que contribuíram para que o hit desse carnaval fosse uma ofensa à nossa cultura. Uma ode à cultura do “roube a nossa identidade musical e a transforme em um acarajé com percussão”.
Gostaria também de informar a todos que nós, verdadeiros representantes da cultura trance/eletrônica brasileira, estamos criando uma petição no Petition On-line para que a música “Rebolation” não seja mais tocada nas rádios e em programas de televisão no Brasil.
Acreditamos em nossos ideais e em nossos princípios. Acreditamos que esse tipo de música contribui para a imagem negativa das nossas festas rave tanto no Brasil quanto no mundo. As pessoas afirmam que são regadas à muitas drogas, mas a pior droga de todas é quando uma banda baiana pega um ritmo aqui do sudeste e o transforma em Axé.
Contribuímos para a criação de um movimento coeso e unido, que exportou para o mundo o swing e a magia brasileira no rebolation, mas, assumidamente, repudiamos a adaptação dessa vertente pelos integrantes da banda Parangole.
Aproveito este espaço democrático e interativo para convocar todos vocês, que vão a trances, pvts e baladinhas eletrônicas, a boicotar toda e qualquer forma de veiculação e difusão da música Rebolation. Rebolation é bom, rebolaton é muito bom, mas não foi feito para você que curte micareta.
Estaremos nos reunindo no próximo final de semana no meu sítio em Macacos das 21h de sábado às 14h de domingo, com a presença de alguns DJ’s e amigos, pela bagatela de R$ 80 para protestarmos contra essa afronta. O local tem piscina, estacionamento e segurança.
Você, tranceiro, está convocado. Não vamos deixar que o nosso símbolo máximo seja roubado por uma banda que usa abadá e toca berimbau. Junte-se a nós nessa cruzada contra a apropriação do rebolation pelas bandas de axé.
Contamos com a sua presença!