Dizem que os filmes clássicos só merecem uma continuação se a história a ser contada for interessante. Gosto de pensar que a minha vida é um filme. Uma comédia de muito mau gosto, mas que às vezes gera boas risadas para a audiência. Sendo assim, era inevitável que algum dia um dos grandes momentos desse blog – e da minha vida – tivesse uma continuação.
A história se passa cinco após o fatídico primeiro episódio de “Micaretas não valem a pena”. De 2006 para cá, muita coisa mudou. Peguei mais garotas, namorei, arrumei emprego, comprei um Playstation 2, terminei o namoro, voltei o namoro, comprei um carro, terminei namoro, vendi um Playstation 2, comprei um Xbox 360 e nunca mais fui em uma micareta. A vida seguia o seu rumo normal, até que um belo dia…
Estava tranqüilo e sereno na minha casa, apreciando as coisas boas da internet quando recebo um convite: ir ao maior show de axé do Brasil de graça no camarote mais caro do evento.
O coração bateu mais forte, as mãos ficaram trêmulas e lembranças desagradáveis vieram à tona. A multidão, o empurra-empurra, a garota que eu era afim na época, o vídeo-game que vendi pra financiar a fracassada empreitada. Uma miríade de sensações e sentimentos tomou conta de mim. Isso tudo por 10 segundos, o tempo necessário pra digitar um sim em resposta ao convite.
Eu não queria saber. Estava decidido a enfrentar mais uma vez o tão temido Axé Brasil e sair de lá como o verdadeiro vencedor que sou: com no mínimo 20 garotas a mais na minha contagem de relacionamentos (instantâneos). Afinal, hoje em dia eu pelo menos consigo iniciar uma conversa com uma avulsa sem começar a tremer e falar merda (na maioria das vezes).
Convite aceito era hora de me preparar para o grande dia.
Coloquei a minha única e melhor calça jeans, meu All-Star verde da sorte e minha camisa de gola V, que me rendeu até um título importante na internet, mas que posteriormente seria substituída pela vestimenta característica desses eventos, carinhosamente chamado de “abadá”.
Rumo à Santa Luzia e a minha redenção, nada poderia dar errado. Infelizmente, estamos falando de mim.
Tudo estava conspirando a favor da minha revanche. Estava com o meu casal favorito: Danilo Guedes e Gabi Dornelas, além da presença da linda Joycelular e da Lidi. Além disso, o camarote era open par, ou seja, eu teria ali o combustível ideal para me dar bem com qualquer garota.
pronto pra strondá as cocota rsrsrsrsrsrs
Porém, eu não contava com um detalhe: eu estava no camarote mais caro do evento. Logo, por mais bem sucedido que eu seja, eu era o cara mais pobre, feio e gordinho do recinto. Digo isso porque o nível das mulheres que estavam lá era de “sensacionais” para cima. Eu deveria ter no mínimo uns centímetros e uns músculos a mais para pelo menos conseguir me aproximar de uma delas sem despertar a característica expressão de nojo.
Mas, claro. Não me precipitei. Curti com os amigos, tirei fotos com os famosos que estavam por lá, comi, bebi e tuitei. Estava vivendo o sonho. Like a boss, na gíria das ruas.
Com a dose certa de incentivo, percebi que era hora de me dirigir ao local ideal para superar o trauma de ir em um Axé Brasil e não pegar ninguém. Eu estava ali. Não precisei vender um vídeo-game pra ir. Não havia nenhuma garota que eu estivesse apaixonado para me impedir de chegar em outras. Tomado pela coragem e pela necessidade de auto-afirmação, desci em direção a pista do Axé, onde, na minha cabeça, a festa da promiscuidade acontece.
Esse foi o meu erro. O meu único erro aquela noite. Como diz um ditado que inventei há algum tempo atrás, quem nasceu pra príncipe, não se mistura nos negócios do proletariado. Eu não deveria estar naquele lugar, mas lá fui eu.
Com toda a marra e gingado que adquiri na minha breve estadia no Rio de Janeiro, comecei a rondar a pista em busca de redenção. De uns beijinhos.
O problema todo foi: eu estava com um abadá que dizia de forma subliminar: sou rico e provavelmente estou com U$ 500 na carteira e um Iphone no bolso. Na verdade, eu só tinha um Iphone no bolso. Os dólares ficam na conta bancária, vulgo Adsense.
Vestir esse abadá e adentrar a pista foi um convite excelente aos “ponguistas” de plantão que vão o Axé Brasil.
Com cinco minutos andando pela pista, um cara aparentemente bêbado entrou na minha frente e impediu minha passagem por alguns segundos. Se isso fosse na rua ou em qualquer outro lugar, eu o empurraria e deixava rolar. Se viesse pra cima eu estaria preparado. Mas não naquele ambiente. Na pista do Axé você nunca sabe se um cara está sozinho ou acompanhado de outros 500 amigos de aba reta. O risco de você se meter numa briga e ser espancado ali dentro é enorme e eu não ia arriscar apanhar. Um erro.
É nóis no Axé
Os segundos que o cara se fingiu de bêbado foram suficientes para ele enfiar a mão no meu bolso de forma rápida e imperceptível e roubar o meu Iphone. Notei alguns segundos depois, quando coloquei a mão no bolso, que ele estava vazio. Quando olhei para trás, o filho de uma puta já havia desaparecido na multidão.
Lá estava eu, mais uma vez, derrotado pelo Axé Brasil. Ao notar que fui roubado, perdi toda e qualquer vontade de chegar em alguma garota ali. De cada 10 pensamentos, 100 envolviam as mais variadas formas de tortura que eu seria capaz de aplicar no cara que me roubou. Decapitação com presto barba era a mais simples e higiênica delas.
Aquele não era o meu lugar. Nunca foi. Nunca será. Como se não bastasse vender um vídeo-game para ir da primeira vez e não pegar ninguém, dessa vez, que fui de graça, acabei pagando um preço tão alto quanto um Playstation 2.
Se fosse um cara religioso diria “só Deus pode me julgar”, mas não precisa ser nenhum gênio pra identificar a ironia dessa frase, não é mesmo?
Voltei para a área do camarote com a minha aparência típica de derrota: ombros encolhidos, cabeça baixa e um completo desânimo. Fui até o posto de polícia do evento fazer um boletim de ocorrência, mas depois nem registrei, já que não adiantaria nada e eu seria só mais um número nas estatísticas de roubo do evento (vulgo trouxa).
Abalado, triste e com a auto-estima de uma formiga, tentei pela última vez sair daquele lugar com pelo menos uma cocota na minha lista. Cheguei em uma garota sentada perto de onde eu estava. Conversa vai, conversa vem e na hora do vamos ver… era lésbica.
Puta que pariu, Rafael.
Roubado, triste e ainda chegando em lésbica. Na escala de perdedores, eu estava, naquele momento, dez níveis acima do segundo colocado. Mas aí, acho que impulsionada pelo sentimento de dó, ao me ver daquele jeito, uma garota resolveu melhorar um pouco a minha noite…
E assim, eu concluí – pela segunda vez – que micaretas não valem a pena. Mas dessa vez eu não saí no 0x0 do Axé. Só saí R$ 900 mais pobre, mesmo não pagando pelo camarote…
TOMA ESSA AXÉ BRASIL.
Infelizmente, aposentei de vez a minha carreira como micareteiro. Só volto em um evento desses se eu me tornar policial. E com direto a cacetete.
Hoje tem festa oxente uai o caralho. O CARALHO!