Donas de casa entram na justiça contra o Femen Brazil
Donas de casa entram na justiça contra o Femen Brazil
São Paulo, 11 de janeiro de 2013.
Um grupo de donas de casa entrou com uma ação coletiva na justiça de São Paulo na última terça-feira (08) contra o grupo Femen Brazil e suas integrantes. De acordo com o processo, as autoras da ação alegam “se sentirem completamente constrangidas e envergonhadas com as ações do grupo e não se consideram representadas de maneira alguma por mulheres que utilizam da própria nudez para chamar a atenção da mídia”.
O Femen Brazil, braço nacional do movimento nascido na Ucrânia em 2008 ganhou as manchetes nos últimos meses pelos seus protestos onde as manifestantes aparecem seminuas, geralmente de topless e com cartazes com mensagens contra a exploração da mulher como objeto.
Na última semana, o movimento realizou um protesto em um shopping paulista contra o reality show Big Brother Brasil, alegando que o programa aliena as pessoas.
Segundo uma das autoras do processo, que não quis se identificar, o “FEMEN desrespeita as mulheres de verdade, que trabalham e são donas de suas próprias vidas. Essas meninas não sabem o que é acordar cedo para ter tempo de uma rapidinha com o marido, preparar o café dos filhos, passar o dia tomando conta da casa ou em seus empregos e a noite poder descansar assistindo o que bem entender. Para elas é tudo uma questão de tinta guache nos seios, algumas câmeras e muita confusão para chamar a atenção. Eu não me sinto representada por elas e acredito que nenhuma mulher adulta e consciente também se sinta”.
Procurada pela redação, a líder do movimento Sara Winter não foi encontrada para comentar sobre o assunto.
Saiba mais sobre o processo clicando aqui.
Universidade para todos, mas nem tanto…
Nesse momento estou muito feliz por ter concluído o ensino médio em 2004 e já estar formado também na faculdade. Não é uma felicidade do tipo “estou realizado”, mas algo mais “ainda bem que eu não tenho que enfrentar esse inferno que está se tornando entrar em uma faculdade pública”.
O governo brasileiro iniciou um processo de “democratização do acesso ao ensino superior” no final de 2004. Bem no ano em que eu estava me formando no colégio. Naquela época, o ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio ainda era apenas uma prova de avaliação do seu aprendizado ao longo do ensino médio. Ao contrário do que o nome sugere inicialmente, esse “exame” continha questões totalmente objetivas, raciocínio lógico e conhecimentos gerais em sua grande maioria. Ou seja, não era separado por questões de português, matemática, geografia, história, química, física e biologia, tal qual uma prova tradicional de vestibular.
Para se ter ideia, algumas das questões da minha prova do ENEM eram “qual é o mosquito transmissor da Dengue” e “o quadro Retirantes, de Cândido Portinari se refere a qual período histórico brasileiro”? Sim, era chupetinha. Tirei 92 na prova objetiva e 98 na redação. Porém, essas notas ainda não valiam nada.
Em 2005 o Governo anunciou o Programa Universidade para Todos, ou ProUni. A partir desse momento o ENEM passou a ter uma função. Era através da nota obtida no Exame Nacional do Ensino Médio que os alunos de escolas públicas teriam a oportunidade de entrar em faculdades particulares com bolsas integrais ou parciais de estudo.
Esse foi o primeiro passo na “democratização do ensino superior”. Como eu tinha estudado a vida toda em escola pública e tirado uma nota sensacional no ENEM e, ainda por cima, não ser de classe “alta”, consegui uma bolsa parcial pelo ProUni. Mesmo já tendo passado no vestibular da faculdade em questão. Ótimo!
A partir daí, o exame foi totalmente reformulado. Tornou-se mais difícil, já que agora era uma porta de entrada para as faculdades privadas. Foi uma boa iniciativa do Governo. Ainda não estavam pipocando faculdades particulares a todo o momento, então, ajudava a galera a cursar boas instituições que já eram bem reconhecidas no mercado.
Pessoas que não teriam condições de pagar uma PUC, por exemplo, agora tinham a chance de ganhar meia-bolsa ou bolsa integral. Digamos que é mais “tranquilo” pagar R$ 350 em um curso do que os tradicionais R$ 700,00 (na época). Ter um curso superior ainda não era algo tão normal em 2004/2005. Poucas pessoas tinham e geralmente pertenciam às classes sociais mais altas.
Graças a esse projeto, Lula praticamente garantiu a sua reeleição.
Em 2009, o Governo dá mais um passo nesse audacioso projeto e o ENEM passa a valer também como porta de entrada para as universidades Federais através do SiSU (Sistema de Seleção Unificada). É nesse momento que as coisas começam a ficar um pouco mais complicadas.
A prova que antes era tranquila se tornou uma maratona com 180 questões de todas as matérias divididas em dois dias intensos de prova. Os cursinhos que antes eram “pré-vestibulares”, agora são Pré-ENEM. O que, na minha opinião, desvirtuou bastante a função de um exame que avalia o ensino médio. Quem antes estudava para passar em uma boa faculdade, agora estuda para tirar uma boa nota no ENEM.
Se o aluno já tinha uma carga absurda sobre as costas com a preocupação de passar de ano, agora era ainda maior com o tão temido exame.
Some a isso outras questões que foram levantadas como as controversas cotas para negros e índios nas faculdades federais. Não vou me alongar nesse assunto e muito menos discorrer sobre ser contra ou a favor dessas cotas. O ponto não é esse.
Enfim, chegamos em 2012 e o ponto principal desse meu texto.
Nesse processo todo de democratização do ensino superior, o Governo acabou favorecendo demais algumas situações e prejudicando bastante gente.
Hoje em dia você tem:
– Cotas para pessoas de baixa renda (e essas cotas são divididas de acordo com a renda familiar, tendo várias categorias)
– Cotas para estudantes do ensino público
– Cotas para negros
– Cotas para índios
– Bolsas de estudo em faculdades privadas para pessoas de baixa renda
Pode me chamar de elitista ou de preconceituoso, que é o que mais acontece quando se toca nesse assunto, mas os jovens que são de classe média e estudaram a vida toda em escolas particulares, muitas vezes com pais se sacrificando pra pagar a mensalidade, acabaram ficando prejudicados.
Você estuda o ano todo e se prepara para o ENEM. Apesar dos estudos, não é todo mundo que faz uma prova brilhante. Não é todo mundo que tem um QI acima da média e, muitas vezes, só estudar não conta.
Você tira uma nota que não é suficiente para te fazer entrar direto no curso e na faculdade que você escolheu. Isso porque o número de vagas para pessoas na sua “condição” diminuiu drasticamente.
Em um curso com 50 vagas, faça as suas contas tirando aquelas destinadas para as cotas de negros, índios, estudantes de baixa renda e estudantes de escola pública. Sim, esse resultado é o número de vagas que você terá que disputar com as outras milhares de pessoas na mesma situação que você, em um país onde a classe média é a maior representante.
Mas você desanima totalmente, pois em alguns dias ainda terá a abertura do SiSU. Infelizmente, com todas as vagas anteriormente preenchidas, as notas de corte para os cursos sobem consideravelmente. Se a nota para passar em medicina já era normalmente alta, no SiSU ela estará ainda mais alta.
Nesse momento você esquece as faculdades públicas e tem que se voltar para as particulares. Porém, lá em cima eu falei que o ProUni oferece bolsas parciais e integrais para alunos que estudaram o ensino médio em escolas públicas e possuem renda familiar mais baixa. Ou seja, você que é um aluno de escola particular e de classe média mais uma vez não pode ser beneficiado por nenhum dos programas do Governo. Nesse caso, as suas duas alternativas são: estudar mais um ano da sua vida pra passar em uma federal ou cursar uma particular que custa bem caro.
O Governo ainda é bonzinho e te dá mais uma opção: o FIES – Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior. Na verdade, o FIES já é bem antigo, da época do regime militar (Crédito Educativo). Só foi reformulado e ganhou um novo nome.
Como o próprio nome diz, é um financiamento que pode ser total ou parcialmente utilizado na sua graduação. Você faz a sua faculdade, se forma e 1 ano e meio depois começa a pagar o financiamento que é dividido de forma análoga à duração do seu curso (se cursou 4 anos, tem 4 anos para pagar) com uma taxa de juros de 6.5% ao ano.
Ou seja, se você é de classe média, estudou o ano todo e não conseguiu passar em uma federal, não se encaixa nas exigências para conseguir o ProUni, não é negro e nem índio, a única ajuda que o Governo te dá para cursar uma faculdade é um financiamento que ao final terá um valor total maior do que aquele do seu curso. Muito justo.
No meu ponto de vista, não é bem a ideia de “Educação para Todos” que tanto se prega por aí.
Infelizmente, em um país como o nosso onde existe muita desigualdade social, as iniciativas para tentar diminuir e ajudar os menos favorecidos acabam ajudando demais e em algum momento vão passar a desfavorecer completamente aqueles que tem alguma condição.
Hoje em dia, se você está se formando no colégio, eu só posso dar um conselho: estude, mas estude muito e como se não houvesse amanhã caso você queira entrar em uma boa faculdade, seja ela pública ou privada.
Sobre ménage e amigos
No primeiro post de 2013 quero tratar sobre um assunto sério: amizade. Para ser mais específico, vamos falar sobre amizade durante um ménage ou o famoso sexo a três.
Não quero ser taxado de machista, mas não curto a ideia de realizar essa “deliciosa” fantasia com uma garota e outro cara. Não que eu seja contra. Se de repente tem uma garota dando sopa e manda um “Rafa, eu quero dar pra você e praquele cara agora”, eu não hesitaria um segundo sequer em tirar a minha roupa. Não estou tão exigente assim a ponto de dispensar uma foda.
Mas se você tem um compromisso com a moça e quer realizar um ménage, sou a favor de ser com outra garota e explanarei o meu ponto de vista nas linhas abaixo.
Em primeiro lugar, acredito que homens são mais possessivos. Pelo menos eu sou. Então, não acharia nada legal praticar sexo com a minha namorada e um terceiro membro (risos) masculino à sua escolha (ou dela). De uma maneira bizarra e levemente preconceituosa, me sentiria traído. Ou pelo menos muito preocupado pensando que o cara está proporcionando mais prazer a ela do que eu. Sem contar que eu ficaria tentado a comparar quem tem o maior membro (mesmo com 100% de certeza que o meu está pelo menos uns 5 ou 6cm acima da média brasileira).
Sendo assim, o caminho mais lógico seria escolher um amigo para participar. Aí entra toda aquela questão ética sobre confiança. Responda-me com sinceridade: você tem algum amigo que chamaria para transar com você e a sua namorada? Eu tenho ótimos e melhores amigos, mas não sei se consigo pensar em algum para realizar tal ato. Já vi grandes amizades se desfazendo por muito menos, e como diria um dos principais mandamentos do The Bro Code: “bros before hoes”.
Mas voltamos à questão do possível ménage com uma garota aleatória, você e seu amigo. Vamos supor que seja aquele amigo de muitos anos. De infância. Com certeza vocês passaram por muitas aventuras, por momentos alegres e tristes. Deram apoio um ao outro. Enfim, construíram uma história de amizade que só se fortaleceu nos últimos 20 anos.
Eis que vocês estão em um quarto de motel qualquer com uma garota linda e safada. Enquanto você está por baixo e o amigo pratica o famoso doggy style, rola aquele momento extremamente constrangedor: um piru encosta no outro acidentalmente.
Eu, particularmente, interromperia o ato na hora e entraria em uma espécie de estado catatônico.
Todos os 20 anos de amizade serão colocados de lado porque ficará um clima ruim. Ver um amigo pelado é algo relativamente normal (e não venha dizer que é papo de gay, porque qualquer pessoa que cursou o ensino médio, faculdade ou já praticou algum esporte coletivo tipo futebol já presenciou amigos sem roupa no vestiário), mas a partir do momento em que seus membros sexuais se encontram, todo um novo panorama se forma.
Eu não veria meu amigo com os mesmos olhos. Eu ficaria constrangido perto dele. Cara, nossos pênis se encontraram. Tal qual duas pederneiras, seus pênis entraram em atrito por um breve momento e isso não é legal. Em nenhuma ocasião isso pode ser legal. Eu teria que fazer psicanálise para me tratar se houvesse atrito entre o meu pênis e o pênis do meu melhor amigo.
É o tipo de situação que derruba o argumento da tatuagem do Macarrão, amigo do Bruno: “a amizade nem mesmo a força do tempo irá destruir” :cry:. Amigo, experimente encostar os seus respectivos penises durante um ménage e veja se mantem essa tattoo.
Não sei vocês, mas ainda não estou preparado para ter esse contato imediato de 4º grau com um pênis que não seja o meu.
Adeus 2012. Seja bem vindo 2013!
O mundo não acabou em 2012, mas a julgar pelos comentários que vi na reta final de dezembro, esse não foi o melhor ano na vida de muitas pessoas. E vou me incluir nessa. Não foi fácil.
No último dia de 2012, a gente para pra pensar no ano que passou (e como foi rápido) e percebe que apesar de todas as coisas ruins, as pequenas coisas boas sempre irão se sobrepor. E melhor ainda é poder contar com os amigos ao lado sempre que algo parece não dar certo.
Mas o que importa é que em 2012 eu fortaleci ainda mais os laços com os meus amigos e família. Afinal, nos piores momentos são eles quem vão te dar uma palavra amiga, um abraço, um conselho, um puxão de orelha ou simplesmente escutar os seus lamentos e choros.
Em 2012 conheci muita gente legal, que espero levar comigo e fortalecer a amizade ainda mais em 2013. Pessoas do trabalho, da rua de trás, do Twitter e também aquelas que foram atropeladas na minha frente, mas só esse ano que fomos realmente desenvolver uma “amizade”.
Dentre essas novas amizades, vale destacar a santíssima trindade composta por Marcos Oliver, Latino e Felipe Dylon. Amigos “de longa data” que interagiram comigo nas redes sociais, proporcionando um dos melhores momentos da minha vida.
Também voltei a ter mais contato com aqueles amigos que por um motivo ou outro, você se afasta sem perceber, mas que não se esquece um minuto sequer.
Infelizmente deixei de ter contato com outras pessoas, mas espero que essas também tenham um bom 2013. Não é legal desejar o mal pra ninguém, já que normalmente isso só atrai o mesmo pra você.
Viajei, fiquei bêbado, chorei, ri pra cacete, fiquei triste, fiquei feliz, fiquei decepcionado, fiquei orgulhoso, fiquei com raiva e tudo passou, como sempre passa.
Acredito que todos esses sentimentos misturados, às vezes numa proporção diferente da que eu gostaria, ajudaram a ter ainda mais certeza sobre o meu caráter e o tipo de pessoa que sou/quero ser. E é sempre muito bom saber que você está no caminho certo, por mais que as circunstâncias de façam pensar em fazer o contrário.
Tive o prazer de finalmente tocar o maior e melhor instrumento já criado pelo ser humano: o Keytar (ou teclarra, como gosto de chamar) fazendo com que eu me sentisse um verdadeiro integrante do maior grupo brasileiro dos anos 80/90: Polegar.
Finalmente deixei de lado o sedentarismo e comecei a praticar uma atividade física (e que está me fazendo cogitar uma possível carreira no UFC em alguns anos. Fique ligado). Ou seja, pelo menos algumas das minhas “resoluções de ano novo” de 2012 foram adiante.
Mas o principal é que aprendi que você não deve ficar desanimado com um ano ruim até que ele realmente acabe. Você pode se surpreender nos últimos meses e descobrir que uma fase ruim é somente isso: uma fase ruim. As coisas sempre se ajeitam no final.
Um coração partido se cura (e acredite, tem pessoas que farão de tudo para que isso aconteça), uma decepção se torna apenas uma lembrança que vai sumindo aos poucos, uma derrota é algo que vai te servir de aprendizado para melhorar da próxima vez e perdoar é algo essencial, mesmo que não signifique esquecer o que passou.
É isso. Desejo a todos um ótimo 2013. Cheio de realizações e apenas sucesso. Se tiver algum fracasso, que sirva para incentivá-los e torná-los pessoas melhores. Espero ter todos vocês por perto nesse próximo ano.
Também prometo escrever muito mais por aqui. Mesmo que ninguém leia.
Quanto a resoluções para o ano que vem? Eu só tenho um objetivo e vou alcançá-lo.
Abraço a todos os envolvidos.
Alfredinho
Ele era o motivo de chacota na escola. Gordinho e cheio de espinhas, Alfredinho passava os dias lendo quadrinhos, jogando RPG e discutindo qual era a melhor trilogia: Senhor dos Anéis ou Star Wars. Era o que se chamava de Nerd. No sentido mais puro da palavra. Durante a noite, nos chats, fóruns, twitters e MMORpg’s da vida, ele era Alundil, o Elfo.
Alfredinho sempre foi o motivo das piadas de Edinho, o popstar da galera. Forte, loiro e rico, Edinho era o centro das atenções. Os meninos o invejavam. As garotas o desejavam e ele sabia aproveitar essa fama. Beijos depois da aula e alguns amassos no muro da escola não eram raros. Mas ele não podia topar com o gordinho. Sempre com uma piadinha na ponta da língua. A mais clássica era levantar quando Alfredinho sentava. Aquele movimento de “ser jogado pra cima”. Quem nunca fez isso?
Mas o futuro tinha planos para os dois. Alfredinho, entre um festival de Cosplay e uma partida de D&D, estudava e lia bastante. Tinha um futuro promissor, como era de se esperar. Já Edinho, no tempo livre, ficava na internet buscando “mulheres com seios enormes” no Google e tentando ver suas amiguinhas peladas pela webcam.
Os anos foram passando e Alfredinho emagreceu. Sabe aquela fase em que os homens crescem de uma vez? Alfredinho cresceu e a gordura acumulada foi melhor distribuída. Não era o que podia se chamar de magro, mas também não era mais o gordinho nerd da turma. Bom, ele ainda era nerd, mas não tão gordinho assim.
E lá foi Alfredinho cursar a sua faculdade de Ciências da Computação enquanto Edinho passava em 100º lugar excedente no curso de Educação Física de uma tradicional faculdade particular.
Mais forte do que nunca, Edinho logo se tornou o centro das atenções na sua nova sala. Ele era bonito, tenho que confessar. Se fosse mulher, eu daria pra ele.
Alfredinho não chamava a atenção. Ninguém reparava nele. Em uma sala repleta de nerds, era difícil algum deles chamar a atenção.
Mas como é o costume das faculdades, era chegada a hora do trote. Edinho como era descolado e pra frente, foi poupado no seu trote. Só teve a cabeça raspada e o rosto pintado. Nesse dia, Edinho conheceu Silmara. Uma veterana gostosa da sua faculdade. Gostosa é pouco. Eu só não descrevo a Silmara nesse conto porque não pretendo ter uma ereção.
A química foi imediata. Ela já tinha a ficha completa de Edinho. Sabia que o pai era deputado e que ele morava em um dos mais tradicionais bairros da cidade. Ela não era interesseira, longe disso, mas queria um futuro garantido. Ali começou um romance que prometia. Vinte minutos depois Silmara já estava sem a calça de ginástica que deixava sua bunda ainda mais definida e Edinho sem a sua bermuda Adidas no vestiário da faculdade. Saíram de lá namorando. Apaixonados.
Já o nosso nerd favorito, Alfredinho, estava sendo exposto às mais tenebrosas formas de tortura que um calouro pode passar. Os alunos de Ciências da Computação eram o alvo preferido dos veteranos. Coitados, sempre eram humilhados das piores maneiras.
Durante o trote, um grupo de alunos arrastou o mais tímido dos calouros – Alfredinho – para um canto mais afastado e tiraram a roupa do pobre rapaz. Ele queria chorar, mas estava na faculdade. Aguentou bem. Não entendeu a cara de espanto dos outros alunos ao verem pelado. Era uma mistura de terror, admiração e curiosidade. Ficaram surpresos ao ver que Alfredinho tinha um enorme diferencial.
No meio desses alunos estava Pablo. Para vocês ele não é ninguém, mas para quem curte uma putaria virtual, ele era simplesmente o dono do maior portal de pornografia brasileiro. Uma mente brilhante. E dono de um negócios em franca expansão, afinal, os seus vídeos faziam sucesso e o número de assinaturas do site crescia assustadoramente. Edinho assinava. Se não me falha a memória, foi um dos primeiros a garantir o acesso ao vasto material de Pablo.
Pablo viu em Alfredinho uma mina de ouro. Iria aproveitar aquele nerd. Pensava em transformá-lo em um homem. O garoto tinha potencial.
– Ai, gordinho. Tu conhece o buraco69.net?
– Conheço sim. Disse Alfredinho acanhado.
– Prazer, Mr. Cock, administrador. Disse Pablo estendendo a mão. Tenho planos para você.
Pablo estava investindo pesado em vídeos amadores. Pagava uma mixaria para algumas garotas e as filmava fazendo sua mágica. Ele era um mago do cinema. Era o Hitchcock do cinema pornográfico amador brasileiro.
Às oito horas da manhã do dia combinado lá estava Alfredinho. Acanhado, mas estava lá. Pablo, ou Mr. Cock como gostava de ser chamado, chegara com a garota que filmaria a cena. Um mulherão.
Para Alfredinho, que de mulher pelada só tinha visto sua mãe e as garotas do buraco69.net, aquela era uma oportunidade de ouro. Ganhou uma grana para fazer algo que nunca havia feito até aquele dia.
Aquela mulher era sensacional. Ela comandou o show. Alfredinho não teve que fazer muito esforço. Apenas deixou o seu astro trabalhar. E ele trabalhou como nunca havia trabalhado antes. É aquele ditado, pra quem come ovo frito, comer caviar é sonho. Bom, pra quem só conhecia a própria mão, aquela garota era uma espécie de Sylvia Saint brasileira.
O nerd fez como o combinado. Mr. Cock gravou a cena e ao final, pagou a garota.
Vídeo editado e dois dias depois estava no ar.
Foi um sucesso. Nas primeiras horas mais de 500 downloads e 50 assinaturas novas por hora. Todo mundo queria prestigiar aquele fenômeno sexual. Alfredinho começava a ficar conhecido como o Messias do pornô. O Rocco brasileiro. O cara que substituiria Kid Bengala.
Edinho, por sua vez, chegou em casa e acessou o buraco69.net. Tinha acabado de chegar da casa de Silmara. Foi conhecer a família da namorada e saborear um delicioso strogonoff de frango que a sogrinha fez questão de cozinhar. Que garota! Não podia ter escolhido uma namorada melhor.
Logo de cara já viu o banner que ocupava metade da tela exibindo aquela cena sensacional. Foi logo baixando. Vinte e cinco minutos depois o download estava concluído. E lá vai Edinho dar o Play no seu MediaPlayer com as calças arriadas, o rolo de papel higiênico do lado e uma ereção instantânea.
O filme começou e de cara ele reconheceu Alfredinho. Mas que porra esse gordo nerd tá fazendo ai? Pensou.
Quando Alfredinho tirou a calça, Edinho tomou um susto. Não conseguia parar de olhar para aquela imagem. Algo na tela chamava a sua atenção. Olhou para sua cintura e para a tela. Para a cintura e para a tela novamente. O gordo nerd fora subestimado a sua vida toda. Edinho agradeceu por não ter comprado um monitor 3D.
De repente entra aquele mulherão em cena. A câmera pegava as suas pernas e ia subindo devagar. Estava apenas de biquini. Edinho pensou “pelo menos essa garota vai dar uma canseira no gordinho”.
Ela já chegou ajoelhando em frente a Alfredinho no vídeo. A câmera se movimentou, subiu pela suas costas e deu a volta, focalizando o seu rosto.
– Puta que o pariu!!! Gritou Edinho.
Na sua frente, na tela do monitor, Silmara estava iniciando o que seria considerado por todos os Nerds a maior foda de todos os tempos.
A essa altura surgiam milhares de janelas no MSN de Edinho e seus scraps aumentaram consideravelmente.
Pois é. Nunca subestime aquele gordinho da sua escola. Ele pode ter um talento bem maior que o seu.
O tempo é cruel, mas a atendente do Detran é mais
2012 foi um ano de renovação. Pelo menos da minha carteira de motorista, já que o resto do ano não teve nada de diferente que eu possa afirmar “wow, como a minha vida mudou, se renovou e agora está perfeita como um comercial de margarina”. Não, não rolou.
Falando sobre carteira de motorista, rolou um fato deveras constrangedor na época de renovar a minha habilitação.
Tirei minha primeira habilitação em 2008. Não tem tanto tempo assim. Claro que de lá pra cá eu ganhei alguns quilos, os cabelos ficaram mais brancos e deixei de lado o cabelo estilo colírio. Além disso, cultivei uma barba de respeito. Mas qualquer pessoa ainda conseguiria me identificar na foto de quatro anos atrás.
Então estou lá na clínica do Detran pra fazer os exames de renovação. Cheguei em um horário bom. Não tinha fila nem nada. Era só apresentar os documentos, o comprovante de pagamento, entrar em uma sala e realizar o exame. Simples e sem burocracia, mas as coisas nunca são tão simples quando se trata de mim.
Quando entreguei a carteira de motorista para a moça do guichê, ela olhou repetidamente da carteira para o meu rosto. Pensou um pouco e por fim disse:
– Você tem uma foto 3×4 recente?
– Não. Não sabia que precisava tirar outra.
– Mas você era muito novo nessa foto. Uma criança.
– Ah, obrigado! Eu sei que to conservado. Mas ela só tem 4 anos. Serve, não?
– Só tem 4 anos? Nossa, mas o tempo foi cruel demais com você de lá pra cá, hein?
É, amigo. Eu admiro muito a presença de espírito das pessoas que trabalham nos órgãos públicos brasileiros. Acredito que bom humor deve ser essencial quando você precisa lidar com pessoas que estão estressadas e odeiam toda a burocracia com as quais se veem envolvidas nesse tipo de situação. Confesso que fiquei sem palavras. De verdade.
– …
– Você pode tirar uma foto nova enquanto eu marco aqui o seu exame. Tem uma drogaria aqui pertinho que tira foto instantânea.
– …
– Posso te esperar depois do almoço?
– P-p-p-pode.
Raramente fico assim. Mas a moça foi tão ousada e tão espontânea que eu simplesmente não tinha nenhuma resposta pronta. Toda a minha sagacidade foi por água abaixo com esse comentário acerca da minha atual aparência.
Pois fique sabendo, dona mocinha do Detran, que até hoje tem gente que ainda acredita que eu tenho na faixa dos 21 anos. Acho que você estava apenas com inveja da minha aparência jovial e um leve toque de maturidade com os cabelos brancos.
De qualquer forma, fica aqui o registro do atrevimento dessa moça. Se eu me preocupasse com esse tipo de comentário, provavelmente faria um post muito mal criado em algum blog ou rede social para relatar o fato. Como estou bem comigo mesmo, deixarei isso pra lá.
Vocês podem conferir o quanto eu ainda estou lindo na foto abaixo:
Rodrigo Lombardi não é um galã
Rodrigo Lombardi não é um galã
Muitas pessoas (ou apenas o Elmer (em negrito), como sempre) vão interpretar esse post com o argumento “noffa, o Rafa tá analisando os galãs da rede Globo. Acho que ele curte um piru”. Não, eu não curto piru, ao contrário da senhora sua mãe. Mas gosto de assistir televisão e faço isso desde que me entendo por gente. Portanto, posso dizer que tenho autoridade pra criticar o elenco atual de galãs da Globo.
Na verdade, vou falar de um “galã” em específico: Rodrigo Lombardi.
Nada contra a pessoa de Rodrigo Lombardi. Ele parece ser um cara maneiro, bom de conversa e eu até pediria pra tirar uma foto e dar um oi no telefone pra minha mãe se encontrasse com o cara na rua. Mas como galã ele não me convence.
Não sei se é por ter cara de bonzinho ou por nunca ter interpretado um vilão ou algo do tipo, mas a única imagem que eu tenho dele é como irmão do Marcos Pasquim em uma dessas novelas das sete horas, escrita pelo Carlos Lombardi (o nome é apenas coincidência de acordo com a Wikipédia).
E o cara não deveria ter passado disso: side-kick simpático, levemente abobalhado e carismático do Marcos Pasquim. Esse sim, um verdadeiro galã de novelas da Globo. Viril, peito cabeludo, forte, rústico e que já passou o rodo em metade das atrizes da casa, de acordo com o dossiê “As Pasquim Girls”, escrito por Chico Barney, o Cidadão Kane da blogosfera.
No ar atualmente em Salve Jorge como Theo (um oficial da gloriosa e famosa cavalaria do exército brasileiro, risos), esse é o terceiro papel de Rodrigo Lombardi como protagonista. As outras duas aparições foram como o indiano Raj em Caminho das Índias e Herculano Quintanilla – O Astro -, em uma refilmagem da novela homônima.
A prova cabal de que Rodrigo Lombardi não é um galã pôde ser vista em Caminho das Índias. Na trama, Raj acabou ficando com Maya, mulher que estava destinada a Bahuan, interpretado com maestria por um verdadeiro galã da casa: Márcio Garcia.
Taí um cara que merece respeito e deveria ser escalado mais vezes como galã. Mesmo interpretando um dalit indiano, nosso eterno apresentador do Melhor Do Brasil e Gente Inocente não deixou de lado toda a marra e malemolência do típico malandro carioca, sendo vítima de um claro boicote da produção do folhetim.
Falta isso a Rodrigo Lombardi: marra, malemolência, maldade, pegada e um vilão no estilo de Marcos, o “michê” par de Claudia Abreu em Celebridade, um clássico moderno do horário nobre.
Para piorar a situação, a música “Esse Cara Sou Eu” do rei Roberto Carlos é a trilha sonora do personagem em Salve Jorge. E ligar a canção a Rodrigo Lombardi está causando uma espécie de lavagem cerebral na cabeça das mulheres que acompanham a trama. É como uma mensagem subliminar forçando as pessoas a aceitaram Lombardão como um galã, algo que ele não é.
Será que Rodrigo Lombardi não aprendeu nada com a velha escola da emissora (Antonio Fagundes, Zé Mayer, Francisco Cuoco, Ricardo Machi, Victor Fasano, Humberto Martins, Fábio Assunção apenas pra citar alguns)?
Fica aqui a minha indignação para com a emissora da esfera platinada. Não coloquem Rodrigo Lombardi na geladeira, mas ofereçam um workshop para o rapaz com os caras que realmente entendem o que é ser um galã do horário nobre.
Ele não me inspira. Ele não me proporciona admiração. No máximo, um leve sorriso de canto de boca durante as cenas em que ele conversa com seu Manga-larga Marchador.
Queremos galãs melhores no horário nobre! Queremos um cara que te faça querer ser ele, e no momento eu não quero ser o Rodrigo Lombardi.
Especial de natal: decepções natalinas
Diferentemente de Roberto Carlos, não tenho o costume de preparar um especial de natal para os meus fãs. Até porque eu não tenho fãs. Porém, para não deixá-los sozinhos nessa noite de natal, vou relembrar um breve momento de derrota natalina do jovem e pueril Rafa Barbosa.
Era o natal de 1998 e naquele ano eu queria muito, muito mesmo, um “Futebol Gulliver”. Sempre fui adepto do futebol de botão, mas queria inovar e adquiri habilidade em outra categoria do esporte bretão. Portanto, passei o ano todo implorando para os meus pais, tios e padrinhos por esse brinquedo.
Eu estava passando por uma fase um pouco conturbada. No ano anterior, eu deixei de ser o pequeno príncipe da família, já que a minha prima (filha da minha madrinha e neta da minha tia mais legal e generosa) havia nascido. De repente, todas as atenções, mimos e presentes da família Barbosa estavam voltados para outra pessoa. Até eu, vez ou outra, me flagrava fazendo carinho e brincando com a garota que usurpou a minha condição de favorito do império Barbosa.
Mas eu tinha esperança de que o natal traria o meu tão esperado Futebol Gulliver.
Na grande noite, a família toda estava reunida na casa da minha tia. Quando cheguei, dei aquela sondada básica na árvore de natal e constatei que havia um pacote embrulhado com tema “infanto-juvenil” e no formato exato do balde que continha o kit de dois times Gulliver.
Senti que havia ganhado a noite naquele momento. Não precisava de mais nada. O Bom Velhinho seria generoso e na manhã do dia 25 eu estaria jogando e detonando os meus amiguinhos em mais uma categoria futebolística (já fazia isso no futebol da vida real, no vídeo-game, no futebol de botão e até no futebol de pregos e moeda).
Contei cada segundo entre a hora que cheguei e a hora da abertura dos presentes. Finalmente, depois de muita comida e papo furado fomos para a árvore de natal.
Sem nenhuma surpresa, os 10 ou 20 primeiros presentes foram todos para a minha priminha. Bonecas, bonecas, roupinhas, bonecas, bonecas, roupinhas, bonecas, tecladinhos com som de animais, roupinhas, bonecas e mais bonecas. Depois de uma breve pausa, um par de meias para o Rafael. Mais brinquedos para a minha prima. Uma cueca para o Rafael. Mais brinquedinhos para a minha prima e uma blusa para o Rafael.
O pacote que parecia o balde Gulliver ainda estava ali e era questão de tempo até alguém pegar e falar o meu nome. Um momento clássico de vitória e uma daquelas histórias de milagre natalino.
Minha tia pegou o embrulho, olhou pra mim com uma cara de “esse é o seu grande momento, Rafael. Venha brilhar com o seu mais novo e completo kit de futebol Gulliver, contendo o pano gramado e 22 jogadores de Cruzeiro e Atlético. Vem ser feliz nesse natal”.
Infelizmente, as palavras não foram bem essas, mas sim:
– Ih, gente! Mais um presente para a Ana Luiza! Essa neném tá demais!
Decepção. Tristeza. Ambos os sentimentos na sua forma mais profunda. Não entendi o que havia feito de errado naquele natal. O que até alguns minutos atrás era o meu presente mais esperado, de repente havia se tornado um balde com uma espécie de LEGO gigante, já que uma criança de 1 ano e alguns meses não poderia brincar com os pequenos cubinhos de montar.
Daquele dia em diante me tornei uma pessoa amarga, que não acreditava mais no natal e nesse espírito que acompanha a data. Passei a ser mais rabugento e jurei não mais comparecer às festas de fim de ano da minha família.
Felizmente eu tinha apenas 12 anos e no natal seguinte já estava lá esperando pelo meu presente.
Rafael – o campeão mundial de pique esconde
Não me lembro muito bem quando essa história aconteceu. Eu não devia ter mais de 12 anos, então provavelmente foi entre 1996 e 1998. Era o auge da minha infância, aquele momento de transição entre as brincadeiras infantis e o início da adolescência. Naquela época, a brincadeira mais popular entre a turma era o pique esconde.
O motivo era um só: se esconder com as gatinhas do prédio e descolar uns beijos. Quem sabe até algo mais, como uma mão na cintura. Sonhávamos com outras coisas, mas, pelo menos no meu caso, faltava iniciativa (só tinha 12 anos, dá um desconto).
Certo dia, praticamente todos os garotos e garotas do prédio e mais alguns do condomínio (era um conjunto de oito prédios), estavam participando da brincadeira. Restringíamos a área de esconderijo aos arredores do nosso prédio pra evitar problemas com os pais (a rua ainda era um lugar perigoso, já que se tratava de crianças criadas em apartamento).
A brincadeira começou de tarde, por volta de umas 15h. Alguém perdeu na adedanha, então teria que começar contando e procurando pelo resto da galera. Confesso que aquele dia estava um pouco cansado, mas não dispensava esse tipo de brincadeira com o pessoal.
Quando o escolhido começou a contar, todas as crianças foram para os esconderijos mais famosos da área.
Pensei em me esconder debaixo da escada: ocupado Era o primeiro lugar que os possíveis casais da brincadeira procuravam para ter um pouco de privacidade. Corri para o quartinho de materiais de limpeza: ocupado (era o segundo lugar mais procurado pelos casais). Dei mais um pique e fui atrás do prédio: fácil demais e um péssimo esconderijo.
Pensei por alguns segundos e resolvi subir para o último andar e, colocando à prova as minhas capacidades de escalada e parkour, resolvi subir na caixa da mangueira de incêndio e levantar a tampa que dava acesso ao topo do prédio (área da caixa d’água). Era um lugar escuro e mal cabia uma pessoa. Na época eu ainda era baixinho, então foi perfeito.
Entrei, fechei a “escotilha” e esperei.
Como eu disse, naquele dia estava cansado. Aquele vão escuro, uma posição confortável e um silêncio completo. Em questão de minutos peguei no sono.
A propósito, eu tenho uma facilidade enorme para dormir em qualquer lugar. Ônibus, cadeira de escola/faculdade, sofá, colo das gatas, no banco do passageiro e no banco de trás de um carro e até mesmo no chão quando em avançado estado etílico. Se me sentir confortável, com certeza irei dormir.
Voltando ao esconde-esconde.
Dormi.
Acordei um pouco assustado. Não fazia ideia de quanto tempo havia passado desde que eu entrara naquele aconchegante esconderijo. Na minha cabeça, eu tinha apenas cochilado. Então, abri a portinha devagar e desci sem fazer o menor barulho. Desci os degraus pé por pé, calculando cada passo para não fazer nenhum ruído que despertasse a atenção da pessoa que estava procurando.
Cheguei ao primeiro andar tão sorrateiro quanto Solid Snake em uma missão de Metal Gear Solid. Quando sai pela portaria, corri como se não houvesse amanhã, bati na pilastra que era o “marco” e gritei a plenos pulmões:
– UM DOIS TRÊS TÔ SALVO!
A adrenalina de ter me salvado era tanta que só alguns segundos depois fui me dar conta. Já havia anoitecido. Eu dormi mais que imaginei e os meninos devem ter pensado que desisti da brincadeira. Todo mundo já tinha ido embora pra casa e estavam provavelmente jogando vídeo-game ou o pior, dormindo.
De repente me dei conta de que poderia ser bem mais tarde do que eu pensava e estaria encrencado se meus pais estivessem me procurando.
Da emoção de ter me salvado da brincadeira ao cagaço de levar uma surra e ser colocado de castigo, foi um pulo.
Subi cada degrau ensaiando as mais variadas desculpas e a minha melhor cara de “eu sou inocente de todas as acusações que vocês estão fazendo”. Mentalmente, já escutava o sermão do meu pai, da minha mãe e da minha avó.
Abri a porta de casa com os olhos fechados e para a minha sorte, escutei a vinheta da novela das sete.
Alívio. Estava a salvo pelo menos do esporro.
Só nesse momento que me dei conta de que dormi pelo menos umas 4 horas naquele esconderijo. Na época eu não saberia essa expressão, mas arrisco dizer que hoje em dia, relembrando dessa história, eu tive um breve momento de narcolepsia.
Felizmente, posso dizer que saí vitorioso do pique esconde daquele dia. Não me encontraram por pelo menos umas dez rodadas. Oficialmente, não me deram o título de campeão do esconde-esconde, mas eu sei que esse recorde permanece intacto até hoje no condomínio Heliópolis. Tentaram me apelidar de Annie Frank, mas não rolou.
Ela foi encontrada. Eu não. Risos.
Sobre a vida adulta
Tenho tentado escrever uma retrospectiva sobre o meu ano de 2012. Embora tenha sido repleto de bons acontecimentos, não dá pra ignorar aqueles que me desanimaram ou me deixaram pra baixo. Não preciso me lembrar das coisas ruins. Vivê-las já foi péssimo o suficiente. Portanto, não vou falar especificamente sobre isso nesse post.
O que quero comentar aqui é sobre como anda a vida dos meus amigos de colégio e faculdade. Pelo menos a grande maioria deles e traçar um breve paralelo com a minha vida.
Nesse ano de 2012 adicionei muita gente da época de escola no Facebook. Afinal, essa é a função das redes sociais, né? Reencontrar amigos e conhecidos que não se tem contato há anos. E para a minha surpresa, muitos deles já estavam, de fato, na vida adulta.
Não sei se sou eu que estou ficando pra trás ou se temos prioridades diferentes, mas a grande maioria deles já está casada e com família constituída. Inclua aí filhos (às vezes mais de um).
É engraçado, pois conheço a turma do colégio há pelo menos 18 anos (estudei na mesma escola da primeira série ao terceiro ano) e crescemos juntos. Na verdade, posso dizer que passamos todas essas fases da adolescência ao mesmo tempo e depois de formados os caminhos meio que se separaram. É sempre um choque ver pessoas que você conheceu ainda criança tendo as suas próprias crianças.
É normal, acredite, mas não deixa de ser marcante.
Não me vejo “construindo” uma família agora. Não me vejo casado ou com filhos até, pelo menos, os meus 30 ou 35 anos. Alguns dirão que estarei velho demais pra isso. É claro que quero ter filhos, e como sou totalmente influenciável pela cultura pop, vejo a minha vida como a de Ted Mosby, de How I Met Your MOther. Ao meu redor, todos encontram as mulheres de sua vida e começam a ter outras prioridades além de se embebedar em uma mesa de bar ou realizar maratonas de Star Wars e Senhor dos Anéis.
Eu digo que quero estar completamente estabilizado para dar esse passo. Um grande passo, aliás. Infelizmente, não controlamos essas coisas e vai que ano que vem eu encontro o amor da minha vida, caso em pouco tempo e começo 2014 com um bonequinho encomendado pela cegonha?
A questão é que ainda bate aquela dúvida se eu estou atrasado. Como vocês podem ler por aqui, a maior parte do tempo eu ainda ajo e penso como um moleque de 17 anos que tá começando a curtir a vida agora. Mas sempre que vejo os meus amigos e suas respectivas famílias, me pergunto se já não é hora de começar a pensar nessas coisas.
Até os meus melhores amigos, aqueles que eu tenho contato frequentemente já estão pensando em juntar os pares de meias de vez com suas namoradas, enquanto ainda penso em qual será o próximo lançamento da Ubisoft ou em como passar de uma fase de Assassin’s Creed. É complicado.
Estou ficando velho e ao contrário do que gosto de pensar, a cada dia que passa, a “vida adulta” se mostra ainda mais presente do que eu gostaria de admitir. Acho que tenho essa tal de síndrome de Peter Pan que todo adulto metido a adolescente se diz vítima. Não quero ficar para trás e ser apenas o “tio Rafa” e escutar perguntas como “por que você nunca se casou, tio”? É apenas triste isso.
No fundo, no fundo, acho que apenas ainda não encontrei a pessoa certa pra me fazer mudar esse quadro. E eu não espero que ela esteja usando um guarda-chuva amarelo.