Voltei a jogar futebol.
Como estava parado há muito tempo, era necessário comprar uma chuteira. Um artista precisa das ferramentas certas aliadas ao seu talento para brindar o público com suas obras de arte.
Parti em busca daquela que seria a responsável por calçar os meus pés nesse retorno triunfal. Só que eu não estava preparado para o que viria a seguir.
Depois do fatídico 7×1 para a Alemanha, o brasileiro está decepcionado com o escrete canarinho. Nos falta aquela gana de vencer, disputar cada bola como se fosse o último lance. Nos falta aquele beque com cara de poucos amigos, muita força e pouca técnica. Também perdemos aquele volante cabeça de área, caneleiro, raçudo. Que não tem medo de dar um carrinho criminoso visando proteger o gol brasileiro.
Falta raça e sobra estilo e fanfarronice. E acredito que a grande responsável por essa derrocada em nosso futebol seja a fashionização dos materiais esportivos.
A chuteira, que deveria ser uma ferramenta de trabalho, hoje em dia é um acessório de moda. Temos douradas, amarelas, vermelho carmim, rosa choque, verde cintilante do fundo do mar, azul turquesa e infinitas combinações de cores.
A prateleira de chuteiras parecia um quadro do Romero Britto. Aliás, até arrisco a dizer que deve existir uma chuteira da Nike Special Edition Romero Britto.
No meu tempo a regra era clara: chuteira somente no estilo clássico: preta com um ou outro detalhe em branco. Havia a exceção com as chuteiras da Diadora, mas nessa época se resumiam a apenas duas cores: verde e roxa.
Com essa variação de chuteiras equivalente a variação de cores de esmaltes, as chuteiras pretas, verdadeiras raridades, acabaram tendo os seus preços elevados. Só me restava escolher uma dessas chuteiras saídas diretamente dos livros de colorir.
Acabei me rendendo e comprei uma chuteira com tons de rosa, mas não muito chamativa. Afinal, independente das cores, o artista precisava entrar em campo. Não seria a cor da chuteira que me impediria de dar alegria a esse povo tão sofrido, não é mesmo?
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