O rock inocente morreu. Aquele rock com uma pegada mais adolescente, juvenil mesmo, com letras leves e divertidas saiu de cena e deu lugar às decepções amorosas, sentimentos suicidas e problemas que não deveriam ser prioridades para pessoas com menos de 18 anos.
Nasci no meio dos anos 80, então cheguei a pegar um pouco de bandas (que na verdade eram grupos) como Polegar, Dominó (uma cópia fajuta da primeira), Balão Mágico e Trem da Alegria. Apesar de não ser aquele “rock” propriamente dito, eram bandas que tinham letras que tanto crianças quanto adolescentes poderiam cantar e se divertir sem a menor preocupação com maus entendidos e acusações de atentado violento ao pudor.
Canções como Dá pra mim (o seu amor), Ela não Liga, Ela não Gosta de Mim (esse vídeo comprova cientificamente que Polegar é e sempre será superior a Dominó), Companheiro e Nosso Lindo Balão Azul alegravam as tardes de sábado e domingo de toda uma geração de crianças. Coreografias ensaiadas, air guitars e até mesmo air keytars eram encenados com uma alegria e uma devoção que hoje em dia não se vê mais nas salas de estar da família brasileira tradicional.
Esse “estilo” musical foi perdendo a força no início/meio dos anos 90. Apesar do enorme e meteórico (apenas pra manter o clichê de todo texto que fale sobre a banda) sucesso dos Mamonas Assassinas com o público infanto-juvenil, as letras dos caras não eram “inocentes”. Eu só fui descobrir o que era uma suruba alguns anos depois, quando assisti Calígula pela primeira vez. E com meus 9 anos de idade, estava bem longe de passar a mão na bunda e comer alguém.
Na mesma época também tivemos a explosão do Axé e como seu maior representante, podemos citar o grupo baiano É o Tchan. Crianças de várias idades ralavam o tchan, viam o resultado depois de nove meses e faziam a dança da bundinha em toda e qualquer festa infantil pelo bairro. Ainda éramos muito novos para entender as entrelinhas do É o Tchan, mas já começávamos a caminhar para o fundo do poço no quesito “músicas para crianças e adolescentes”.
No início dos anos 2000, mais especificamente em 2003, tivemos um justo e correto resgate dessa pegada rock and roll inocente com Felipe Dylon, a grande revelação da música brasileira naquele início de década.
Uma mistura certeira de carisma e talento fez com que os jovens voltassem a cantar coisas saudáveis como:
Eu fico o dia inteiro
Só pensando em você
Na minha cama, no chuveiro
Conto as horas pra te verEspero que um dia
Você possa me notar
Eu sou um cara maneiro
Vê se para de esnobar
Por alguns meses, Felipe Dylon manteve um legado honesto como representante de toda uma geração no rock and roll.
No embalo do nosso surfista favorito, a Banda B5 também contribuiu bastante para o cenário rock and roll inocente, com o inesquecível hit “Matemática”. Quem não se lembra de uma jovem Stephanie Britto desfilando pelos corredores daquele colégio? Eu me lembro. Bastante. Principalmente da cena do pirulito.
Ao mesmo tempo, caras da velha escola como Dinho Ouro Preto até que tentavam – apelando para um visual adolescente extremamente forçado – abocanhar uma boa parte desse público. Para a nossa sorte, não teve sucesso.
Em meados de 2004 um novo estilo musical passou a ganhar força no cenário nacional: o emocore. Etimologicamente falando, a palavra emocore utilizada para designar essa vertente do rock aqui no Brasil foi empregada de forma incorreta, mas isso é papo para outro post.
Saía de cena o rock animado que nos remetia a saudável e carismática juventude de Ipanema e éramos apresentados às ruas e o clima cinzento de São Paulo. NX Zero começava a estourar nas rádios de todo o país e entre razões e emoções, a juventude brasileira que antes surfava e se divertia nas festinhas do play, agora chorava por corações partidos, relacionamentos que não deram certo e nutriam pensamentos sombrios para quem ainda estava aprendendo a resolver equações de primeiro grau.
Foi um momento sombrio. Pra falar a verdade, a juventude brasileira já caminhava para uma era das trevas no quesito musical. Funk, emocore e lambada erótica eram alguns dos estilos musicais que embalavam as matinês e sub-17 por todo o país.
Nesse meio tempo, o jovem Rafa Barbosa que acompanhava e fazia parte desse universo se tornou adulto. Pois é. Comecei a ver com outros olhos esse tipo de música e percebi, com certo saudosismo, que as temáticas musicais voltadas para os jovens de hoje em dia são bem pesadas.
Com 16 anos você não deve entrar em depressão por um pé na bunda, ou achar que é o fim do mundo levar um fora. É normal. Você vai ficar triste, mas escrever mensagens suicidas já é um pouco demais. E por se tornar algo tão pesado, penso que os anos 80/90 foram o último respiro de “inocência” que a música voltada para esse público teve. Estamos cada vez mais distantes do Mundo da Lua.
Mais recentemente bandas como Restart e Cine até que tentaram. Mas por trás de um visual colorido e guitarras sem peso, as letras ainda tratavam dos mesmos assuntos: decepção, decepção e mais decepção amorosa.
Com essa perspectiva “otimista”, não me surpreende que a juventude brasileira esteja caminhando para um sombrio e profundo abismo.
Digo o mesmo do Paulo!
Muito legal o texto. Só tem um erro, voce diz que Dominó seria cópia do Polegar, quando na verdade Dominó é bem mais antiga, Dominó foi criada em 1984 pela produtora do GUGU, a mesma do polegar, que se formou 5 anos depois em 1989 para preencher o espaço que o Dominó tinha deixado pois estavam crescendo. Gosto das duas igualmente mas temos que dizer que o Dominó veio primeiro. De qualquer forma muito bom seu texto. Parabéns.