A incrível geração de homens criados pelas avós

Escrito por Arquivo

Às vezes me flagro imaginando uma mulher hipotética que descreva assim o homem dos seus sonhos:

“Ele tem que trabalhar e estudar muito, ter uma caixa de e-mails sempre lotada com as últimas novidades da Lacoste e da Abercrombie. Os pés devem ter calos e bolhas porque ele teve que andar de ônibus na semana passada e não está acostumado a isso.

Ele deve ser independente e fazer o que ele bem entende com a própria mesada: comprar um pullover, contribuir com uma doação para a Vakinha do amigo que quer um PS4, viajar sozinho para Porto Seguro com a turma de formandos do curso de Administração. Precisa dirigir bem o Zafira da avó e entender de impostos cobrados pelas compras no Alliexpress.

Cozinhar? Não precisa! Tem um certo charme em pedir para a dona Neide fazer um strogonoff vegetariano. Não precisa ser sarado, porque não dá tempo de fazer tudo o que ele faz e malhar. Na verdade, dá sim. Acredito até que passa mais tempo malhando que fazendo outras coisas.

Mas acima de tudo: ele tem que ser seguro de si e não querer depender de ninguém, por mais que seja impossível cogitar sair de casa e dos braços da avó Zuleika, que sempre deu os melhores presentes. Na verdade, sempre foi assim: as melhores comidas eram da Vó Neide e os melhores presentes da Vó Zuleika”.

homens criados pelas avós

Pois é. Ainda não ouvi esse discurso de nenhuma mulher. Nem mesmo parte dele. Vai ver que é por isso que estou solteiro aqui, na luta.

Com todas as qualidades citadas acima, como pode um cara como eu ainda não ter arranjado uma namorada? Venho pensando na incrível dissonância entre a criação que nós, meninos e jovens rapazes criados com todo amor e carinho pelas avós, recebemos e a expectativa da maioria das meninas, jovens mulheres, mulheres e velhas mulheres.

O que as nossas vovós esperam de nós? O que nós esperamos de nós? E o que elas esperam de nós?

Somos a geração que foi criada para ganhar o XBOX ou Playstation mais recente. Para ganhar o primeiro carro ao passar no vestibular. Incentivados a estudar, trabalhar na empresa do pai, viajar para a Disney e, acima de tudo, construir a nossa independência no mesmo condomínio que os nossos pais.

Mas não avisaram isso para as mulheres. Para nenhuma delas. Perdeu-se o encanto e o charme que rapazes com a nossa criação causavam. Hoje em dia, com essa onda de independência, deixamos de ser os melhores partidos da cidade.

É uma pena.

E não estou aqui, num discurso inflamado, culpando as mulheres. Não. A culpa não é exatametne delas. É da sociedade como um todo. Da criação equivocada. Da imagem que ainda é vendida dos meninos criados pela avó.

No fim das contas a gente não é nada do que o inconsciente coletivo espera de um homem. E o melhor: nem queremos ser. Que fique claro, nós não vamos andar para trás. Então vai ser essa mentalidade que vai ter que andar para frente. Nós já nos abrimos para ganhar o mundo (e também um Xbox One). Agora é o mundo que tem que se virar pra ganhar a gente de volta.