Jamais imaginei que estaríamos passando por uma pandemia, vivendo em isolamento social e modificando completamente alguns dos nossos hábitos de vida.
As notícias sobre a COVID-19 na China pareciam algo muito distante da minha realidade, morando em Belo Horizonte. Não seria a primeira vez que notícias de uma nova gripe mortal chegaria por aqui. Com meus 30 e poucos anos, lembro da SARS e da H1N1. Até tivemos casos no Brasil, mas tudo controlado.
Na minha cabeça, ficaríamos todos bem.
Eu não tinha muitas expectativas para 2020. Não tracei grandes metas e objetivos. Eu só queria me recuperar psicologicamente de 2019, que foi um ano extremamente cansativo e desgastante.
Os primeiros meses do ano pareciam promissores. Aos poucos a minha cabeça voltava ao normal, sem crises de ansiedade e tendo mais tempo para descansar e fazer as minhas coisas.
E em março tudo desabou.
A princípio, parecia que ficaríamos em casa por algumas semanas no máximo. Que a COVID, que já dava as caras no Brasil, seria controlada em pouco tempo, como das outras vezes.
Só que dessa vez havia um fator diferente: alguém que estava/está deliberadamente atuando em favor da nossa morte.
Não havia plano.
Enquanto víamos o número de mortes crescer na Europa, aqui os efeitos da doença eram minimizados.
De repente, as mortes por aqui também começaram a aumentar. E a minha saúde mental degringolou de vez.
Minhas crises de ansiedade, que há meses não davam as caras, se tornaram diárias. O meu maior medo? Não saber distinguir se eu estava no meio de um ataque de pânico ou se estava apresentando alguns dos sintomas da COVID.
Por alguns meses, fiquei em isolamento total. Saindo uma vez a cada quinze dias para comprar algo no mercado. E, nessas saídas, o meu maior medo era trazer o vírus para dentro de casa e contaminar os meus pais.
Ambos são grupo de risco. E, ao longo do ano, graças às crises de ansiedade e distúrbios alimentares, acabei me tornando grupo de risco também.
A impressão que eu tenho é que esse ano foi um limbo. Que existe um vácuo entre os primeiros meses de 2020 e agora. Como se fosse aqueles momentos em que você está fazendo algo, o cérebro desliga por alguns segundos e você desperta sem se lembrar do que acabou de fazer.
Em um ano tão horrível, são poucas as coisas para se ser grato. Não, não acredito em pensamento positivo e eu sou, talvez, a pessoa mais bad vibes que conheço.
Entretanto, poderia ter sido muito pior.
Consegui manter o meu emprego. Graças aos meus cuidados, até o momento não me contaminei e nem os meus pais sofreram com a doença. Apesar do meu pai, como bom bolsonarista, não estar respeitando as mesmas medidas e minimizar a pandemia.
Ao longo do caminho perdi um primo para a COVID. O meu primo mais próximo, apesar da diferença de idade de quase 30 anos.
Amigos perderam parentes próximos, pais ou avós, irmãos.
Mesmo indiretamente, a gente acaba absorvendo a dor de quem a gente gosta por se colocar no lugar.
Mas, a pior parte é não ter perspectiva.
É ter noção de que estamos completamente à deriva. Com um presidente que não está preocupado em garantir a nossa saúde. Muito pelo contrário, agindo completamente a favor do vírus.
Sem um norte ao qual me apegar, a única coisa que eu espero para 2021 é estar vivo. Permanecer vivo. Chegar ao final do ano com alguma saúde, seja ela física ou mental.
É meu único objetivo.
Feliz 2021 a todos.
Engraçado; apesar de quase ter enlouquecido devido ao isolamento e a preocupation de se conseguir money ou não, 2020 e 20201 foram anos MUITO positivos pra mim, pois ninguém de minha família pegou esta droga de doença, ganhamos dinheiro como nunca! E olha que saí para fazer várias coisas devido a necessidade disso!
Nossa! Completa identificação. Mesma vivencias e mesmas impressões. E ainda agora, metade de 2021, mesmo com um fiozinho de luz de esperança, tudo do mesmo.