O fim

Por Arquivo

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Acordou como em todos os outros dias. Se levantou, deu aquela mijada, escovou os dentes, tomou um banho e saiu para trabalhar.

As ruas estavam mais estranhas do que o normal. Algumas pessoas corriam peladas, seguravam cartazes com frases que ele não se importa e outras brigavam sem o menor motivo. Algumas até estavam segurando armas e invadindo casas e lojas, mas ele havia deixado de se importar ou perceber essas coisas há muito tempo. Estava em um total e completo estado de inércia.

Chegou ao trabalho no horário normal, como fazia de segunda a sexta. A única coisa que chamou a sua atenção foi o fato de que, estranhamente, o estacionamento estava vazio. Não teve que parar o carro longe. Estacionou em sua vaga preferida, pegou a sua maçã, enrolou os fones de ouvido, dobrou a jaqueta e a jogou no ombro e se dirigiu ao prédio.

Havia pouca gente por lá. Até o Seu Antônio, porteiro há mais de 35 anos e que se orgulhava de nunca ter faltado um dia sequer, não estava por ali. Essa era uma novidade. Isso era algo fora do padrão. Mas até mesmo os grandes heróis precisam de um dia de folga, não é mesmo?

Pegou o elevador do meio, como sempre. Nos fones de ouvido tocava o novo CD da sua banda preferida. Na rádio do elevador, alguém narrava os acontecimentos bizarros daquele dia, mas ele estava tão entretido em seu próprio mundo que ao chegar no 12º andar não havia escutado nada. Exceto metade da sua música favorita daquele álbum.

Saiu do elevador e passou na máquina de café. Pegou o seu cappuccino com chocolate e esperou que o Almeida chegasse de surpresa, como sempre fazia. O Almeida sempre aparecia na máquina de café nesse horário reclamando do emprego, da esposa, dos filhos, do time e até de si mesmo. Às vezes ele estava no banheiro, deveria aparecer na máquina daqui a pouco. Seguiu para a sua sala.

Apenas o seu chefe estava por lá. Isso não era nenhuma novidade, ele era sempre o primeiro a chegar e o último a sair.

– Achei que você ficaria em casa hoje, como todo mundo.
– Alguém tem que trabalhar aqui, né, chefe?
– Verdade. Mas se quiser ir embora, tá liberado.
– Ah, valeu. Mas não tem nada pra fazer em casa não.
– Nem a sua família?
– Eles estão bem.
– Ok, então.

Ligou o computador e pela primeira vez se deu conta de que, curiosamente, era o dia 12/12/2012. Mas logo em seguida abriu o Excel e foi terminar suas planilhas com o balanço anual da empresa.

Inércia. Essa era a palavra do dia, da semana, do mês e dos últimos anos.

Digita uma fórmula, formata uma célula, aperta enter e parte para a próxima.

Estava tão desligado do mundo que não percebeu quando o dia ficou tão claro quanto o sol visto de perto. Estava tão desligado que nem ao menos se deu conta de que havia acabado de morrer.

Pelo menos conseguiu terminar a planilha.

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