Enviando uma mensagem

Por Arquivo

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Já havia algum tempo que ele pensava que podia se comunicar com eles. De certa forma,  sempre acreditou nisso e em um impulso característico daqueles sonhos infantis, inventou uma máquina que na sua cabeça permitiria esse tipo de contato.

Era basicamente um Pense-Bem antigo, um roteador wi-fi com uma latinha de Coca-Cola aberta em forma de “guarda-chuva” para ampliar o sinal e uma agenda eletrônica antiga da Casio. De acordo com o seu avançado conhecimento em eletrônica, era o bastante para conseguir enviar uma mensagem.

E por muito tempo ele enviou mensagens. No começo, diariamente.

“O L Á  T E M  A L G U É M  A Í”?
“O I”.
“T U D O  B E M  C O M  V O C Ê S”?

Não recebia nenhuma resposta. Nada. Era como se estivesse mandando as mensagens para o mais absoluto e completo nada. O que de certa forma era verdade, convenhamos. Mas ele não sabia (ou não queria acreditar) nisso. Estava determinado a se comunicar.

Os amigos não acreditavam que ele teria sucesso.

– Cara, se não te responderam até agora, é porque simplesmente não querem falar com você ou não existem.

– Existem. Eu sei que existem.

– Tanto faz, cara. Só não quero ver você decepcionado com isso depois.

– Não me decepcionarei. Eles vão responder. Eu acho.

Ele continuou tentando por muito tempo. Eventualmente, claro, reduziu a frequência das mensagens. Não eram mais diárias. Agora havia um espaço de tempo. Porém, a resposta que ele tanto esperava nunca chegava. E isto o estava desanimando.

Dizem que enquanto você acredita em algo, você tenta de tudo para conseguir. Mas, a partir do momento em que você deixa de acreditar, é questão de tempo até deixar pra lá e se acostumar com a ideia de que essa coisa jamais acontecerá.

Era isso o que estava acontecendo.

– E aí, cara! Desistiu de tentar se comunicar?

– Ainda não. Mas acho que não querem falar comigo.

– Você acha? Bom, há quem tenha certeza.

– Infelizmente.

Então, em uma manhã de sábado, ele simplesmente deixou de acreditar que um dia receberia uma resposta.

– Desistiu?

– Não. Só deixei de acreditar que um dia me responderia.

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