Dossiê Rafa Barbosa: UOLKut

Por Arquivo

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O início de uma nova era na internet

2004 foi um ano incrível para a internet brasileira. Estávamos acostumados com o bom e velho Fotolog.net, a rede social (que até então nem era chamada assim pela maioria das pessoas) mais famosa entre os brasileiros, diria até mundialmente. Compartilhar fotos, comentar nas fotos de amigos e “favoritar” perfis interessantes ou de gente bonita eram coisas corriqueiras no universo internético daquela época.

Para outras pessoas, a válvula de escape eram os fóruns virtuais. Principalmente aqueles de games e filmes “DivX” e os de putaria. Eu, particularmente, gostava dos dois. Na época era bastante ativo em alguns deles (dado o meu vasto acervo de pornografia).

Também tínhamos os blogs que estavam começando a ganhar força no Brasil. Eu mesmo tinha um “diarinho virtual” no Blig, enquanto aqueles mais descolados já estavam com suas contas no Blogspot ou “Blogger” da vida. Era uma época promissora.

Então, como um messias que é enviado a Terra para nos redimir de todos os pecados cometidos até então, fomos apresentados a mais nova coqueluche americana: o Orkut.

Uma nova esperança

A rede social ganhou uma força descomunal no Brasil. Era necessário convite para fazer parte daquele restrito clube de pessoas legais. Cada usuário tinha direito a dez convites, que poderiam ser distribuídos entre aqueles amigos mais confiáveis. Esses, por sua vez, compartilhavam seus convites com outros dez melhores amigos e dessa forma a rede funcionava de forma orgânica e organizada.

Até que em 2005 ela deixou de ser restrita e a população a adotou como o mais novo ponto de encontro virtual. O Orkut era como uma pracinha de cidade pequena. Reuníamos-nos ali para paquerar, escutar música, tirar fotos e marcar se uma pessoa era 100% sexy ou legal. Foi uma época incrível e que rendeu ótimos frutos (há quem diga que descolou até uma bimbada graças ao Orkut).

Porém, o sucesso da ferramenta americana não agradava aos atentos empresários brasileiros. Como não era possível estatizar aquela revolucionária rede de interação social, a turma resolveu fazer o que os “empreendedores” web brasileiros fazem de melhor: criar uma versão nacional.

Contexto histórico

Contextualizando historicamente, quando o Fotolog.net atingiu o seu ápice de sucesso e previu que os brasileiros acabariam estragando a sua preciosa ferramenta, o número de cadastros destinados ao Brasil foi estabelecido em “300 por dia”. Esses cadastros eram liberados no momento em que o relógio digital do Windows marcava 00:00.

Era basicamente uma corrida enlouquecida rumo a uma preciosa conta naquele site que marcou toda uma geração.

Vendo esse claro embargo a uma das mais poderosas nações com acesso à internet, os nossos sagazes empreendedores começaram a criar versões brasileiras e alternativas para isso: Flogão, UolFotoblog e Gigafoto.

Não tinham o charme e muito mesmo o carisma do Fotolog.net, mas para uma população carente de atenção e com uma extrema vontade de se exibir, essas eram as melhores alternativas possíveis.

Com o Orkut não poderia ser diferente. Fomos apresentados a uma nova forma de rede social. Uma verdadeira comunidade online de pessoas unidas pelos mesmos gostos e interesses. A ideia era genial demais para ficar apenas com os malvados americanos.

Dotado desse pensamento ufanista, uma das maiores empresas de internet do Universo, desenvolveu a sua versão brasileira da rede social do Google.

Em 2005 fomos apresentados ao UOLKut.

A resposta brasileira ao imperialismo americano

UOLKut – a resposta brasileira ao gigante Orkut

Na época, o principal argumento do UolKut para a adesão de novos membros era a estabilidade do sistema. Com o crescente número de usuários no Orkut, o sistema ficava fora do ar (Bad, bad Server. No donut for you) a maior parte do tempo, o que acabava incomodando profundamente os usuários da rede social.

Tela que se tornou companheira de muitos brasileiros por longos meses

Afinal, estávamos viciados naquilo. Não podíamos ficar mais de uma hora sem a nossa dose diária de scraps, depoimentos, fotos e discussões em comunidades como “Amo/Sou fã de brigadeiro”.

Foi cruel da parte dos donos do UolKut apelar para esse argumento. Dessa forma, muitos usuários acabaram criando suas contas concorrente.

De acordo com reportagens da época, o UolKut oferecia o que já existia nas redes sociais e mais ainda: tudo aquilo que os internautas desejavam. Privacidade, personalização do perfil, sistema de busca, integração com blog e fotolog e tudo o que hoje em dia é basicamente o padrão de qualquer nova rede social (mas no caso do UolKut, apenas com os serviços da mesma empresa).

Os responsáveis investiram pesado na divulgação da novidade. Rolou até comercial de televisão, mostrando com todas os artifícios visuais possíveis que o UolKut era a resposta brasileira imediata e eficiente ao “instável” serviço prestado pelo Orkut.

httpv://www.youtube.com/watch?v=03TczsNFFqs

Pobres tolos. Não sabiam como a internet funcionava.

Pouco tempo depois, não sei se motivado por processo ou ameaça mesmo, o UolKut mudou seu nome para UolK. Infelizmente, nem assim a ferramenta caiu no gosto popular. Estávamos sedentos pelo Orkut e não deixaríamos esse vício tão facilmente.

A ascensão e queda do UolK

Um dos grandes trunfos do gigante portal UOL sempre foi o seu bate-papo. Até hoje é uma das “redes sociais” mais acessadas pelos brasileiros. É um ponto de encontro para muita gente com gostos em comum, como por exemplo: sexo homossexual em São Paulo, predileção por meninas ou meninos de 15 a 20 anos ou imagens de sexo bizarras.

É como se fosse aquele boteco que já não é mais tão popular assim, mas que ainda tem o seu charme e é considerado um patrimônio por aqueles que relutam em seguir em frente.

Aproveitando toda a integração com as ferramentas do UOL, a empresa integrou o UolK ao seu bate-papo, oferecendo uma chance das pessoas se mostrarem como verdadeiramente eram. Ou seja, você entrava na sala logado em sua conta no UOLK, permitindo que qualquer um visitasse o seu perfil.

Saía de cena a “AninhaLoirinha15RJ” e entrava em cena a Marilda Gomes, professora de escola pública, infeliz, mas que adorava poodles e sair com os amigos. Informações obtidas graças a sua descrição no perfil do UolK.

Bem, era o trunfo e ao mesmo tempo a kriptonita da rede social. As pessoas não queriam se identificar. Não queriam expor a sua vida verdadeira ali, logo, o que pensaram ser a grande vantagem da rede se tornou o combustível para a sua queda.

Dessa forma, o UolK logo se tornou uma cidade fantasma (destino cruel que também encontrou o Orkut alguns bons anos depois). Os usuários abandonaram as suas contas, removeram as suas fotos e as suas publicações.

O êxodo foi tamanho que nunca mais se ouvira falar do UolK, mesmo que tenha funcionado até o fatídico ano de 2011, quando teve as suas atividades encerradas definitivamente.

Pelo menos, uma coisa não se pode negar: sem usuários, dificilmente o UolK sairia do ar, né?

 

Confira o primeiro Dossiê Rafa Barbosa – A pornografia através do tempo.

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2 Responses to " Dossiê Rafa Barbosa: UOLKut "

  1. Veronildo disse:

    Fiquei impressionado em saber que essa porcaria existiu até 2011 hahahha

    Eu cheguei a criar um perfil lá em 2005, fiquei 1 dia, achei horrível e apaguei a conta. Nunca mais voltei.

  2. Rachel B disse:

    isso realmente existiu até 2011?

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